REPRESENTAÇÃO DO ESPAÇO GEOGRAFICO

2. REPRESENTAÇÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO

Surgimento e Importância da Cartografia

   Existem diversas formas de se representar o espaço geográfico, sejam por meio de desenhos artísticos, técnicos, fotografias, mapas, etc. A ciência responsável pela representação gráfica do espaço geográfico, tendo como produto final o mapa, é a Cartografia.

   Mas por que se estudar Cartografia? É por conta dela, com a ajuda de diversas áreas, principalmente da Geografia, que se consegue reunir e analisar dados e medidas das diversas regiões da Terra e representar graficamente em uma escala reduzida. A Geografia contribui muito na Cartografia, no que se refere aos seus conhecimentos sobre o espaço geográfico, tais como: conhecimento sobre a geomorfologia, a hidrografia, a organização urbana e populacional, econômica, etc. Esses conhecimentos serão abordados mais adiante. A representação do espaço geográfico em forma de mapas é mais antiga do que a própria escrita, como vemos na figura abaixo, o mapa feito numa placa de barro no ano de 2500 a.C. Mas o que seria um mapa? Para Raisz (1968), o mapa é uma representação do que de melhor se conhece da superfície terrestre, vista de cima. No estudo e na confecção de um mapa, devem ser considerados: escala, sistema de projeções, convenções cartográficas (elementos representados por símbolos), legenda para explicar o significado dos símbolos e um título para o mapa.

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                                                                                                                       Museu online de Topografia – UFRGS, 2010

   Este é considerado um dos mapas mais antigos, datado de 2500 a.C., foi encontrado na região da Mesopotâmia. Representa o rio Eufrates e acidentes geográficos adjacentes, sendo feito uma pequena estela de barro cozido que cabe na palma da mão e que foi descoberta perto da cidade de Harran, no nordeste do Iraque atual.

Escala

   O mapa é uma representação reduzida da superfície terrestre. Esta redução é feita através da escala cartográfica, que é a relação entre o valor de uma distância medida sobre a superfície da Terra e o comprimento medido no mapa, expressado pela seguinte expressão matemática:

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  No mapa existem dois principais tipos de escalas: a escala numérica e a escala gráfica.

   Escala Numérica: é posta em forma de relação matemática.

   Por exemplo: 1:1.000.000 ou 1/1.000.000, onde o número 1, que fica no numerador, é a medida (em centímetros) a ser usada no mapa; e todo número que aparece após os dois pontos ou a barra corresponde à medida (em centímetros) a ser aplicada no terreno. No caso, 1 centímetro no mapa corresponde a 1.000.000 de centímetros a serem medidos na superfície.

Escala Gráfica: representada por uma régua graduada.

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Tamanho da Escala

   Para a representação da superfície através dos mapas é preciso se fazerem reduções dos fenômenos a serem cartografados.

   Por meio disto, existem 3 tamanhos de escala que representam o grau de detalhamento dos fenômenos nos mapas: grande, média e pequena. Em resumo, trata-se de uma questão da necessidade ou não da exigência de detalhes. Um mapa com escala grande apresenta um alto grau de detalhamento dos objetos/fenômenos a serem mapeados, ou seja, a representação gráfica dos elementos da superfície chega próximo do real. Ex.: plantas de construção de condomínios, plantas cadastrais de cidades; escalas menores que 1:25.000 No mapa de escala média apresenta-se um grau de detalhamento regular do terreno, no qual são utilizadas formas geométricas para representá-los. Ex.: Cartas Topográficas; escalas entre 1:25.000 e 1:250.000

   Contudo, se um mapa não apresentar um grau de detalhamento razoável, ele é tido com um mapa de escala pequena. Esta escala é utilizada quando se fazem representações generalizadas dos fenômenos desejados. Ex.: Mapas de Estados, países e Mapa-Mundi; escalas maiores que 1:250.000.

Observe as figuras abaixo mostrando os diferentes níveis de análise em suas escalas:

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   Para Oliveira (1993), o grande drama da Cartografia é o de representar a superfície curva que a Terra possui para uma superfície plana, que é o mapa. Então, um mapa-mundí tem a superfície da Terra toda alterada, sendo, então, o globo terrestre a representação mais fiel que temos da superfícia da Terra.

   Segundo Tamdjian e Mendes (2005), o termo projeção deriva dos processos e metodologias usados para a elaboração dos mapas, que são baseados na utilização de uma fonte de luz dentro do globo terrestre. A projeção dos paralelos, dos meridianos e de outras características geográficas sobre uma superfície colocada ao lado do globo são ilustradas na figura abaixo.

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                                                                                                                                           TAMDJIAN & MENDES, 2005

   Porém, hoje, existem diversas formas de projeções servintes para representação da Terra, algumas são mais utilizadas do que as outras: cilíndrica, cônica e plana

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                                                                                                                                             LABTATE, 2011

   Projeção Cilíndrica: a Linha do Equador é a única coordenada que mantém a dimensão original; logo, as localidades quanto mais próximas forem do Equador, menor será a distorção e quanto mais afastada, as distorções são maiores.

   Projeção Cônica: nesta projeção, somente um dos hemisférios podem ser cartografados de cada vez; logo, os terrenos mais próximos dos polos e do Equador apresentam maiores distorções. Essa projeção é muito utilizada para mapear, por exemplo, a Europa e os EUA.

   Projeção Plana: também é conhecida com azimutal ou polar, tendo como características principais: o centro do mapa pode ser localizado; logo, as localidades mais próximas do ponto central estão representadas com maior fidelidade.

   A projeção plana é aquela que mais tem caráter geopolítico, pois permite a centralização de qualquer país.

   Observa-se que não existe uma “projeção ideal” e, sim, a projeção que melhor representa a área a ser cartografada.

   Portanto cada projeção atenderá a uma determinada necessidade, podendo ser esta a necessidade de mapear a forma dos objetos, a distância entre localidades a serem percorridas ou a área específica a ser retratada. Sendo assim, as projeções cartográficas são classificadas em:

   Projeções conformes: ocorre a deformação de continentes e países, não se preocupando com as áreas e as distâncias, cuja principal preocupação é manter as mesmas formas dos continentes exatamente na latitude e na longitude. As principais projeções são as de Mercator (1569) e Robinson (1961), sendo elas cilíndricas.

  Projeções Equivalentes: mantêm a proporcionalidade das áreas, criando uma grande deformação dos ângulos das coordenadas e nas distâncias reais. As principais projeções equivalentes são as de Gall (1855) e Peters (1973), assim como a projeção confirma, a equivalente também é cilíndrica.

  Projeções Equidistantes: se conservam as distâncias, porém ocorrendo distorção nas áreas e nas formas dos continentes e países, servindo para fins específicos tais como o mapeamento central de um país, assim como a projeção plana.

Orientação no Espaço

   A necessidade de localização e orientação no espaço geográfico tornou-se e é uma das principais preocupações da sociedade. Quando andamos em uma cidade em direção a um local onde nunca fomos, sempre procuramos informações sobre as proximidades e os pontos de referências para se chegar ao destino desejado. Porém, quando uma pessoa está em alto-mar ou no meio do deserto, não existem pontos de referência para se localizar no espaço.

   Ao longo da história da humanidade, foram desenvolvidas diversas técnicas de localização e orientação. Foi percebido que o Sol, por exemplo, nasce sempre no mesmo lado do horizonte e se põe do lado oposto. A partir desta observação foram criadas as direções de E – Leste (onde o Sol nasce ou oriental) e W – Oeste (onde o Sol se põe ou ocidental); logo depois, difiniu-se o N – Norte (setentrional ou boreal) e o S – Sul (meridional ou austral).

   Definidas estas direções, foi criada a rosa-dos-ventos, composta por um disco graduado de 0º a 360º, sendo dada uma volta completa no horizonte (como o ponteiro de um relógio), com a finalidade de orientação com ou sem pontos de referência, por exemplo. Nela estão registrados os pontos cardeais (N, S, E e W), colaterais (NE, SE, SW e NW) e subcolaterais (NNE, ENE, ESS E, SS E, SS W, WSW, WNW e NNW).

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                                                                                                                                                    Rosa dos Ventos

Coordenadas Geográficas

   Na tentativa de solucionar a questão da localização, foi sendo desenvolvido, ao longo dos tempos, um conjunto de linhas imaginárias, traçadas sobre a esfera da Terra nos sentidos Norte-Sul e Leste-Oeste, formando um quadriculado a partir do cruzamento destas linhas, ou seja, uma rede geográfica de localização com o objetivo de se ter a localização exata de qualquer ponto na superfície.

   Essas linhas imaginárias foram denominados de paralelos e meridianos, sendo medidas em grau, minuto e segundo. (Ex.: Trópico de Câncer 23º 27’ N)

   Paralelos: definem as diferentes latitudes, são linhas que têm como parâmetro a Linha do Equador (0º), partindo em 90º ao Norte e ao Sul, marcando a distância entre os polos. Os paralelos delimitam, por exemplo, as zonas climáticas da Terra (zonas quentes, temperadas e glaciais).

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   Meridianos: definem a longitude, são linhas que têm como referência o Meridiano de Greenwich (0º), partindo em 180º para Leste e para Oeste, convergindo para os polos norte e sul. A interseção entre os meridianos e paralelos dá-se em um ângulo reto. É, com base na localização dos meridianos, que foram criados os fusos horários, sendo o meridiano de Greenwich a referência da hora mundial.

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Movimentos da Terra

   A Terra é um corpo celeste e está em constante movimento no espaço, seja em torno do seu eixo polar, seja em torno do Sol a partir do plano da ecliptica. Além destes dois movimentos, a Terra executa uma infinidade de outros movimentos de longas durações, alguns deles conhecidos como ciclos de Milancovitch.

   Porém, para os estudos geográficos, existem dois principais movimentos realizados pela Terra: o movimento de rotação e o movimento de translação, sendo estes os movimentos que mais influenciam na vida humana.

   Movimento de Rotação: é o movimento executado em torno do seu eixo polar, levando, aproximadamente, 24 horas para completar um giro de 360º, com direção W-E, fazendo com que o Sol tenha um movimento aparente de L-W. Este movimento é o responsável pela contagem dos dias e das noites. Porém a Terra possui uma inclinação no seu eixo, de 23º27’, o que não permite que o Sol ilumine todos os lugares da Terra igualmente.

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   Movimento de Translação: é o movimento realizado em torno do Sol, assim como os outros planetas do Sistema Solar, percorrendo um percursso em forma de elipse, sendo este um movimento muito importante para a Geografia no que tange a determinação das estações do ano. Possui a duração de 365 dias e 6 horas, aproximadamente, com a Terra ficando mais próxima do Sol (periélio) e mais distante (afélio). No intervalo de 4 anos, tem a ocorrência do ano bissexto, com 366 dias.

   Com a combinação do movimento de translação e da inclinação do eixo terrestre, ocorre a determinação da maneira e da intensidade que os raios solares atingem a Terra, conhecidos como estações do ano. As estações do ano estão diretamente relacionadas ao desenvolvimento das atividades humanas, como a agricultura e como a pecuária. Além disso, determinam os tipos de vegetação e clima de todas as regiões da Terra de acordo com a época do ano e a localização na Terra. Quando no hemisfério Norte é inverno, no hemisfério Sul é verão. Da mesma maneira, quando for primavera em um dos hemisférios, será outono no outro.

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   Em diferentes épocas do ano, a Terra ocupará uma posição em relação ao Sol que determinará os fenômenos conhecidos como Equinócio e Solstício.

   O Equinócio ocorre quando os raios solares incidem perpendicular-mente sobre a linha do Equador, tendo o dia e a noite a mesma duração na maior parte dos lugares da Terra; no hemisfério norte, ocorre o equinócio de primavera e, no hemisfério sul, ocorre o equinócio de outono; no dia 21 de março e no dia 23 de setembro, ocorre o contrário.

   O Solstício ocorre quando os raios solares incidem perpendicularmente sobre o trópico de Câncer, situado a 23o27’, no hemisfério norte, ocorrendo o solstício de verão, nesse hemisfério, no período de 21 de junho, sendo o dia mais longo e a noite mais curta do ano, que marcam o início do verão. Enquanto isto, no hemisfério sul, acontece o solstício de inverno, com a noite mais longa do ano, marcando o início da estação fria. No dia 21 de dezembro, ocorre o fenômeno oposto.

   Porém essas datas de ocorrência dos equinócios e dos solstícios (estações do ano) não são fixas. Os fenômenos se iniciam, verdadeiramente, quando a Terra e o Sol estão numa posição em que os raios solares incidem perpendicularmente na linha do Equador (primavera e outono) ou a um dos trópicos (verão e inverno).

Fusos Horários

   Juntamente com preocupação da localização das pessoas, no espaço geográfico, atentou-se, também, para situa-las no tempo. Em 1883, na Conferência de Roma (Itália), optou-se por dividir a circunferência da Terra (360º) em 24 fusos horários de 15º cada, os quais correspondem a cada hora diária. No ano seguinte, na Conferência de Washington (EUA), cerca de 25 países adotaram o meridiano de Greenwich como ponto zero, porque a maior parte dos mapas da época (de origem inglesa) adotava esse meridiano. Por razões político-administrativas, a linha do fuso horário não é uma “reta”.

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   Por conta da grande extensão territorial leste-oeste de alguns países, é adotada uma hora legal que nem sempre corresponde exatamente ao fuso em que está localizado. Por exemplo, a Rússia possui 12 horas diferentes, o Canadá 8, os EUA adotam 6 horas diferentes e o Brasil possuia 4 horários distintos. Hoje, o Brasil possui 3 fusos horários.

   A compreensão dos fusos horários é de extrema importância, principalmente para as pessoas que realizam viagens, contato com pessoas, relações comerciais com locais de fusos distintos dos seus, proporcionado, portanto, o conhecimento de horários em diferentes partes do globo.

   Para se calcular o horário de um local, primeiramente deve-se observar em qual hemisfério ele se localiza. As localidades, a leste de Greenwich, têm suas horas adicionadas e, a oeste de Greenwich, são reduzidas, e depois divididas por 15º (equivalente a cada fuso horário). Se as localidades estiverem em hemisférios diferentes, as longitudes são somadas e diminuídas, quando estiverem no mesmo hemisfério.

Fusos Horários do Brasil

   Pela extensa dimensão leste-oeste do território brasileiro, o país possuía 4 fusos horários. Porém, de acordo com o projeto de lei 11.662/08, do Senador Tião Viana (PT/AC), aprovado no Congresso e sancionado pelo presidente da República, se estabelecem apenas 3 fusos horários no Brasil. Esse projeto determinou que o estado do Pará seguirá o fuso horário de Brasília (hora oficial) e que o Acre estará incluído no 3° fuso brasileiro, desaparecendo portanto o 4° fuso antes existente. Os fusos brasileiros são, respectivamente,

(-2h de GMT / 30°W) – Arquipélago de Fernando de Noronha e Ilha da Trindade

(-3h de GMT / 45°W) – Litoral do Brasil até o Distrito Federal (Brasília), abrangendo os Estados interiores.

(-4h de GMT / 60°W) – Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Amazonas, Rondônia, Roraima e Acre.

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Horário de Verão

   O Horário de Verão é a alteração do horário de uma região, designado apenas durante uma determinada época do no, adiantando-se em geral uma hora no fuso horário oficial local. O procedimento é adotado costumeiramente durante o verão, quando os dias são mais longos, em função da posição da Terra em relação ao Sol.

   Contribui para reduzir o consumo de energia, mas a medida tem maior funcionabilidade em regiões distantes da linha do equador, porque, nesta estação do ano, os dias se tornam  mais longos e as noites mais curtas. Porém, nas regiões próximas ao equador, como a maior parte do Brasil, os dias e as noites têm duração próxima da igualdade, ao longo do ano, e a implantação do horário de verão, nesses locais, traz muito pouco ou nenhum proveito. Contudo, seu maior efeito é diluir o horário de pico, evitando, assim, uma sobrecarga do sistema energético.

   Segundo a Divisão Serviço da Hora (DSHO, 2010), no Brasil, o horário de verão foi adotado pela primeira vez em 01 de outubro de 1931, através do decreto 20.466, abrangendo todo o território nacional. Porém houve vários períodos em que este horário não foi adotado (entre 1969 e 1984). Desde 1985, o horário de verão é adotado anualmente. Nesse período, a abrangência, inicialmente nacional, foi reduzida sucessivas vezes até que, em 2003, o horário de verão passa a ser adotado nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Desde 2008, o início ocorre, no terceiro domingo de outubro, e o final, no terceiro domingo de fevereiro, exceto quando este coincide com o carnaval, sendo, então, o horário prorrogado em uma semana.

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