GEOMORFOLOGIA

 

4. GEOMORFOLOGIA

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   A geomorfologia é conhecida com o estudo das formas do relevo, mas ela vai além disso, pois preocupa-se com a origem e os processos que resultaram nas formas que hoje encontramos. As formas representam a expressão de uma superfície, existindo, pois foram esculpidas pela ação de determinado processos, existindo, então, um relacionamento entre as formas do relevo e os processos que os geraram.

   Considerando que esta relação é o centro da Geomorfologia, podemos distinguir sistemas importantes para a compreensão  das formas do relevo, tais como o sistema climático, biogeográfico, geológico e antrópico.

   O relevo sempre foi notado pelo ser humano no conjunto de componentes da natureza pela sua beleza, imponência e/ou forma. E, com a sua capacidade de raciocínio e suas observações, tornaram possível estabelecer relações entre as formas de relevo e seus processos geradores, principalmente, hoje em dia, nas situações do seu dia-a-dia, como assentar o relevo para estabelecer moradia, melhores caminhos de locomoção, localizar seus cultivos, criar seus rebanhos ou definir os limites dos seus domínios.

Surgimento e Evolução do Relevo

   Para atingir o conhecimento do que são e o que representam, uma ou todas, as formas de relevo, identificadas em diferentes escalas espaciais e temporais, é preciso compreender e explicar como elas surgem e evoluem. Este também se encaixa como um objeto de estudo da Geomorfologia: os processos responsáveis pelas ações capazes de criar ou destruir as formas de relevo, de fixá-las num local ou deslocá- las, de ampliar ou reduzir suas dimensões, de modelá-las contínua ou descontinuamente, de mantê-las preservadas ou modificá-las.

   Portanto existem diversas forças que atuam na formação e na modelagem do relevo, com origens de forças endógenas (orogênese, epirogênese, vulcanismo e tectonismo, responsáveis pela formação), forças exógenas (erosão e energia solar responsáveis pela modelagem) e até mesmo forças antropogênicas (ação do homem na criação e destruição do relevo). Os processos endógenos já foram abordados no capítulo anterior. As forças exógenas promovem, ao longo do tempo, a degradação de áreas mais elevadas e agradação (deposição) nas áreas mais rebaixadas, modelando continuamente as formas na  superfície terrestre. Podemos dizer que o motor principal na dinâmica dessas forças exógenas é a energia solar, que desencadeia diversos fenômenos atmosféricos e hidrológicos, estes gerando a ação dos ventos, chuvas, neve, correntes marítimas, etc., que se configuram como os principais agentes externos do relevo.

   Esses agentes externos geram o processo de erosão do relevo que, de maneira geral, ocorrem em três fases: decomposição ou desagregação, transporte e deposição ou sedimentação.

   A decomposição ou desagregação é o fenômeno de desmanche das rochas e minerais que constituem as formas do relevo, ocorrendo devido a ação das mudanças atmosféricas, como as variações de temperatura entre os dias e as noites e as diferenças pluviométricas (de chuvas) entre as estações do ano; também conhecida como termoclastia: fragmentação da rocha devido a oscilação de temperatura diária. As sucessivas variações térmicas acabam fragmentando as rochas em pedaços menores, abrindo fendas por onde penetra a água das chuvas, onde esta reage com os minerais que formam as rochas, altera sua composição química, facilitando sua desagregação; este fenômeno também é conhecido com crioclastia (alternância de gelo e degelo nas fissuras das rochas) e haloclastia (cristalização e estufamento dos sais nas fissuras das rochas).

   O transporte representa a fase em que os sedimentos desagregados são deslocados de um local para outro por meio de agente como ventos, água das chuvas e dos rios, a neve derretida ou, ainda, pelo deslocamento das correntes marítimas, no caso das áreas localizadas no litoral. E “por fim”, quando os agentes erosivos não possuem mais energia suficiente para transportar os sedimentos, criam-se áreas de deposição ou sedimentação em rios ou no litoral, a exemplo da formação dos deltas, que são depósitos de sedimentos trazidos em suspensão pelas águas correntes, que se formam na desembocadura ou foz dos rios (no mar ou em lagos).

   Um exemplo é o Delta do Parnaíba, localizado no norte da região Nordeste do Brasil.

   Portanto é percebido que as regiões mais antigas do globo são as que possuem modelados bastante desgastados por processos erosivos.

   No sentindo evolutivo, as formas refletem um comportamento dinâmico, ao estar continuamente sujeitas a ajustes em seu modelado, como resultado de suas relações com os processos que atuam sobre elas. A importância conjunta da rocha e do clima, por exemplo, traz dificuldades para estabelecer um critério geral para a classificação do relevo.

Relevo Brasileiro

   O relevo brasileiro apresenta uma grande diversidade morfológica em seu território. As principais formas que aparecem são: planaltos, planícies e depressões.

   Os planaltos são as classificações dadas a formas de relevo constituídas por uma superfície elevada, com topo mais ou menos nivelado, geralmente devido à erosão eólica ou pelas águas, que podem ser regulares ou não. Neles o processo de degradação (erosão) é maior que os de agradação (deposição).

   As planícies são grandes áreas geográficas com pouco ou nenhum tipo de variação de altitude, sendo quase completamente aplainadas e delimitadas por aclives (subidas de relevo), e os processos de erosão (deposição) superam os de agradação (deposição). São formadas pela ação dos rios, mares e ventos. Eles carregam sedimentos que vão se acumulando até formar uma superfície uniforme. Não por acaso, a maioria das planícies está localizada às margens de rios e mares. O nome de algumas planícies brasileiras deixa clara essa relação: planície do Rio Amazonas, por exemplo.

   As depressões são mais planas que o planalto e sem irregularidades, por conta do desgaste sofrido por causa da ação do vento e da água (intemperismo), tendo leve inclinação e altitude que pode ir de 100 a 500 metros, apresentando altitudes mais baixas do que as áreas ao redor. Existem dois tipos de depressão: absoluta (região abaixo do nível do mar) e a relativa (região acima do nível do mar).

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   Mas nem sempre foi dada esta classificação ao relevo brasileiro. Uma das mais antigas divisões do relevo foi elaborada na década de 1940 por Aroldo de Azevedo, que acabou servindo de base para todas as outras divisões realizadas posteriormente. A sua classificação levou em consideração as diferenças de altitude; desse modo, as planícies foram classificadas como partes do relevo relativamente planas com altitudes até 200 metros e os planaltos como formas de relevo levemente onduladas, com altitudes acima de 200 metros, dividindo, assim, o território brasileiro em planaltos (59%) e planícies (41%).

   No final da década de 1950, Aziz Nacib Ab’Saber aperfeiçoou a divisão de Aroldo de Azevedo, introduzindo aspectos geomorfológicos, especialmente no que diz respeito as noções de sedimentação e erosão. As áreas onde o processo de erosão é mais intenso foram chamadas de planaltos e as áreas onde o processo de sedimentação supera o de erosão foram denominadas de planícies.

   Porém, somente em 1989, Jurandyr Ross elaborou outra classificação do relevo “mais completa” que as anteriores, levando em consideração importantes fatores geomorfológicos: a morfoestrutura (origem geológica), o paleoclima (ação de antigos agentes climáticos) e o morfoclima (influência dos atuais agentes climáticos). Com base nesses critérios estabelecidos, identificaram-se três tipos de relevo: os planaltos – porções residuais salientes do relevo, que oferecem mais resistência à erosão; as planícies – superfícies essencialmente planas, nas quais a sedimentação supera a erosão; e as depressões – áreas rebaixadas por erosão que circunda as bordas das bacias sedimentares, interpondo-se entre estas e os maciços cristalinos. Portanto, esta é a classificação utilizada até hoje para diferenciação do relevo brasileiro.

   Desde os primórdios da civilização, a importância do conhecimento espacial despertou interesse. Primeiramente, era necessário: a) conhecer onde, no espaço, se localizavam os fenômenos; b) como esses mesmos fenômenos se distribuíam no espaço; e c) por que ocorriam daquela forma.

   A Geomorfologia serve de base para a compreensão das estruturas espaciais, não só em relação à natureza física dos fenômenos, como em relação à natureza socioeconômica dos mesmos. Hoje, sem a utilização de sistemas operacionais, como os Sistemas de Informações Geográficas (SIG’s), torna-se praticamente inviável a elaboração de projetos ambientais entre outros.

   Os planos diretores sejam regionais, urbanos ou rurais, devem levar em consideração as limitações e as potencialidades dos recursos naturais relativos aos meios físico, biótico e também às condições sócio-econômicas. Dessa forma, a aplicação do planejamento se dá à medida que se ocupa ordenadamente o meio físico, buscando adequada proteção ambiental e uso racional do solo, norteados para atividades agropastoris, obras civis e outros (GUERRA & CUNHA, 1994).

   Podemos observar que o relevo terrestre é parte importante do palco, onde o homem, como ser social, pratica o teatro da vida. Os grandes projetos para a implantação de usinas hidro e termoelétricas, rodovias, ferrovias, assentamentos de núcleos de colonização, expansão urbano, reassentamento rural, entre outros são atividades que interferem do modo acentuado no ambiente, quer seja ele natural ou já humanizado. Portanto, se, por um lado, não se pode coibir a expansão da ocupação dos espaços, reorganização dos já ocupados e fatalmente a ampliação do uso dos recursos naturais, tendo-se o nível de expansão econômica e demográfica da atualidade, por outro lado, se é imperativo ao homem como ser social expandir-se, tanto demograficamente como técnica e economicamente, torna-se evidente que apareçam, nesse processo, os efeitos contrário da natureza (ROSS , 1996).