O PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO

 

15. O PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO

A sociedade está diante de um processo através do qual a difusão de fluxos – informações, serviços, produtos, ideias, modelos culturais – se cristaliza em diferentes espaços e cria a noção de interdependência entre as nações, a isto se denomina globalização.

Há uma crença na utilização do termo globalização que identifica os países como dependentes de maneira igual deste processo, ou seja, a ideia de homogeneização e de que o acesso aos fluxos ocorre de forma idêntica para todos os estados nacionais. Porém é evidente que o processo de globalização mantém um desenvolvimento geograficamente desigual, onde os países dependem um dos outros de modo diferenciado e os proveitos e rejeitos deste processo são disseminados de maneira dispare entre as nações.

A globalização é um processo que ocorre em diversas dimensões, porém a dimensão econômica é a mais relevante. Através de manifestações culturais, como as musicais ou cinematográficas, por exemplo, possuem um viés cultural, mas que está indissociado da questão econômica.

Este período possui diversas características entre as quais é possível destacar: a hegemonia da ciência, considerado como uma verdade absoluta e irrefutável; a técnica associada ao discurso científico, e que por esta condição possui um caráter “redentor” colocado com algo capaz de solucionar qualquer barreira imposta pela natureza ou pela própria sociedade; a difusão da informação, sendo que esta é propagada por agentes centralizadores e por muitas vezes manipuladores que através da mídia conseguem vender “necessidades” e mantém o sistema produtivo que os beneficiam.

De acordo com o geógrafo Milton Santos, o intercâmbio entre a ciência, a técnica e a informação designa o período atual denominado por ele de técnico-científico-informacional. As espacializações deste período denominam-se meio técnico-cienífico-informacional.

Para entender a globalização é preciso compreender a geopolítica dos estados nacionais e das instituições que regulam a (des)ordem mundial: ONU –Organização das Nações Unidas; BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento; FMI – Fundo Monetário Internacional; OMC – Organização Mundial do Comércio; OCDE – Organização para cooperação de desenvolvimento econômico, dentre outros. Mas, qual o contexto geo-histórico para o início deste processo? Quando de fato se iniciou a globalização? É um fenômeno recente? Como a globalização é um processo, é possível diferenciá-lo em diferentes etapas respondendo às questões dispostas anteriormente.

A História da Globalização

É possível temporalizar e espacializar o processo da globalização em períodos que se distinguem por eventos que os marcam. A periodização que segue é baseada na elaboração proposta pelo geógrafo Carlos Walter Porto- Gonçalves (2006) que qualifica e tipifica os quatro tempos ou períodos da Globalização.

1º período: de acordo com Porto-Gonçalves, o início da globalização ocorreu com um evento em 1942: a chegada dos europeus à América. A partir deste momento, o mundo começou a se conectar. Os lugares cada vez mais começaram a ser condicionados por processos societários que ocorrem na escala global.

A partir deste momento, se iniciou o que é chamado de mundo moderno. Neste mesmo período, se consolidou a hegemonia europeia perante o mundo. Este mundo que se tornou interdependente, se manteve em bases hierárquicas de dominação e de controle. A globalização se iniciou com a exploração e dominação, mesmo que parcial, da natureza. O “progresso”, já evidenciado neste momento não aconteceria para todos, ou seja, haveria uma distribuição desigual dos proveitos e rejeitos deste modo de dominação.

Este período inicial da globalização ocorreu desde o final do século XV até o século XVIII. Com a elaboração da máquina a vapor, no século XVIII surgiu outra etapa deste processo.

2º período: este período se prolongou até a década de 30 do século XX e abrange os dois primeiros períodos da Revolução Industrial. Nesta etapa do processo de globalização, a energia se  torna o motor principal da transformação da sociedade e da natureza. Este período é o da descoberta das fontes fossilistas, ou seja, são provenientes vestígios de seres vivos que, de alguma forma, ficaram preservados no sistema natural, abaixo da superfície.

Inicialmente, o carvão mineral era a fonte energética concentrada que possibilitou em larga escala a conversão da matéria-prima em produtos além de ser também o combustível necessário para a distribuição dos produtos que estavam sendo processados na fábrica. As embarcações e as locomotivas também se movimentavam através da queima do carvão mineral.

Desta forma, o fator localização pode ser determinante para a funcionalização e especialização de um determinado espaço, a partir do momento em que se pode distribuir a matéria-prima ou os produtos através das redes de transportes, não é mais necessário se produzir tudo em todos os lugares.

É, a partir deste momento, que o capitalismo começa a se formar de uma maneira embrionária quando relacionado com o período atual.

Uma das características fundamentais do processo de globalização é a superação das distâncias e a difusão de dois elementos que são fundamentais para esta concretização: transporte e informação, sendo que a segunda também é um tipo de transporte. Porém a informação, de maneira geral, começou a ser disseminada de forma mais intensa em outro período que será tratado na sequência. A lógica da economia mercantil se instala nos imperialismos lançados pelos europeus na África e na Ásia, funcionalizando cada vez mais estes espaços para suprir suas “necessidades” construídas.

No final deste período, os operários da indústria localizada na Europa iniciaram uma organização política mais concisa, a crise do liberalismo econômico com a quebra da bolsa de Nova York em 1929, um novo modelo de relação entre capital e trabalho marcou o período que será explicitado a seguir.

3º período: o intervalo temporal deste período se estende de 1930 até meados da década de 1970. A nova relação entre capital e trabalho nos países industrializados foi iniciada através da idéia de Henry Ford. O fordismo surge como um “capitalismo popular” como designa Porto-Gonçalves (2006). Neste modelo de produtivo, a produção ocorria em massa para baratear e permitir a aquisição, por parte dos trabalhadores, do que era produzido nas indústrias. O problema do fordismo era que, com a produção em massa, a exploração da natureza se intensificava cada vez mais.

Outra característica importante deste período é o retorno do Estado no processo econômico-financeiro. O problema é que a distribuição dos rejeitos e dos proveitos do modelo de produção fordista não era igual; pelo contrário, era excludente. De acordo com Porto-Gonçalves, “o fordismo não conseguiu atravessar alinha do Equador”, pois os países industrializados estavam localizados na Europa, Estados Unidos e, posteriormente, Japão, ou seja, no Hemisfério Norte.

Ainda neste período, as dívidas externas dos países da América do Sul e da África começaram a se elevar, sobretudo após o cancelamento do tratado de Bretton Woods em 1971, quando houve o rompimento do sistema fixo de câmbio e a dolarização da economia fez com que os países dependessem cada vez mais dos Estados Unidos.

4º período: este período é caracterizado por um fosso nunca antes visto, entre as classes sociais e os países do mundo. Os efeitos econômicos e sociais são evidentes: desemprego, crises, insatisfação popular, e estas condições não escolhem mais lugares de ocorrência. Estes acontecimentos estão acontecendo em todas as escalas.

Este momento é caracterizado pelo geógrafo Milton Santos como o período técnico-científico-informacional que pode ser considerado o período de financeirização do mundo.

A técnica aliada à ciência e esta conjugação a serviço da informação propiciam expressões espaciais cada vez mais semelhantes em locais distintos do planeta. O alcance dos fatores hegemônicos está ampliado e a mudança dos lugares seguem uma lógica que incorpora as “razoes locais” e as “razoes globais” convivendo dialeticamente, ou seja, as lógicas se manifestam, sobre a égide da razão globalizada.

As importações e exportações de matéria-prima, produtos foram estimulados neste período, sobretudo pela diminuição dos custos de transporte e este fator auxiliou na especialização dos lugares, regiões e auxiliou, também, na distribuição desigual dos proveitos do modo de produção vigente.

Neste momento do processo de globalização, os limites ecológicos do planeta, sobretudo com a universalização do consumo, precisam ser considerados. As condições sociais e ambientais do planeta estão submetidos à velocidade e às influências marcantes deste processo.

As Diferentes Globalizações

Para Milton Santos, em sua obra “Por uma outra Globalização”, o período histórico atual pode ser visualizado de duas maneiras, além de uma previsão de como a globalização poderia ser. Desta forma, pode-se considerar que a um só tempo existem três mundos, que assim estão dispostos: O mundo como uma fábula.

Esta visão de mundo considera a existência de uma aldeia global. Esta aldeia seria caracterizada pela difusão homogênea de informação, cultura, mercadoria dentre outros. Há uma crença, nesta ótica, de que o mundo está ao alcance de todos.

Há uma busca incessante pela uniformidade, materializa da pelo ato de consumo que beneficia os agentes hegemônicos, ou seja, aqueles que detêm a informação e a distribuem da maneira como querem.

De acordo com Milton Santos, este entendimento de globalização pode estar gerando uma ideologização em massa que contribui para as fabulações existentes sobre o mundo que aí está e desvia a atenção da sociedade para os reais problemas da civilização.

A ideologia da aldeia global ocorre com o predomínio dos interesses econômico-financeiros, pela desregulamentação das transações comerciais, privatizações das empresas estatais, diminuição da atuação do Estado e suas políticas sociais.

No Brasil, estes acontecimentos neoliberais surgiram, sobretudo, na década de 1990, com a privatização das estatais em diversos setores, dentre estes: comunicação, financeiro, mineração, portuário, elétrico.

O entendimento de mundo desta forma está associado à interdependência econômica entre as nações, porém essa interdependência não é homogênea. Poucos países ocupam  posições hegemônicas enquanto muitos estão situados em posições subalternas.

A instalação de unidades produtivas em diversas partes do mundo, para elaborar um único produto, como um avião, por exemplo, onde peças são produzidas em diversas nações e a montagem acontece em um país, evidencia a participação globalizada, elevando o dinamismo de fluxos de capitais. Porém os rejeitos e proveitos deste tipo de produção são desiguais.

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano

Um dos indicadores elaborados para identificar o desenvolvimento humano, o IDH – Índice de Desenvolvimento Humano foi criado para se estabelecer um contraponto ao PIB – Produto Interno Bruto, pois este último só considera a dimensão econômica. Porém o IDH pondera o PIB para constituir seus parâmetros, através da renda, onde é ponderado o PIB per capita em dólar PCC – Paridade do poder de compra, que elimina as diferenças do custo de vida entre as nações. Além do PIB, para se obter os índices de desenvolvimento humano são considerado outros dois componentes: a longevidade, considerando a expectativa de vida ao nascer; a educação, considerando o índice de analfabetismo e pela taxa de matrícula em todos os níveis de ensino.

O índice do IDH vai de zero a um, sendo que, quanto mais próximo de 1, melhor é o desenvolvimento humano. O IDH é referência mundial e é possível observar onde estão concentrados os melhores e os piores índices na figura a seguir:

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As revoluções técnicas diminuem a procura de mão de obra, elevando os índices de desemprego. Sem emprego, há pouco acesso à renda e, com isso, os acessos a outros bens e serviços se tornam cada vez mais raros, tais como saúde, educação, habitação, alimentação, dentre outros. No livro Geografia da Fome, publicado em 1947, Josué de Castro afira que a fome é o principal problema ambiental da humanidade, considerando que todo problema ambiental é social, assim como a reciprocidade desta relação.

De acordo com levantamento da FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura –, em 2010, calculava-se a existência de 925 milhões de pessoas subnutridas no mundo, o que representa aproximadamente 16% da população mundial. Ainda segundo este estudo, 98% das pessoas, que possuem deficiência de nutrientes elementares para sua subsistência, habitam os países em desenvolvimento.

Dois terços vivem em apenas sete países: Bangladesh, China, República Democrática do Congo, Etiópia, Índia, Indonésia e Paquistão, todos eles asiáticos ou africanos.

Principais áreas de ocorrência de subnutrição no mundo:

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Com este cenário, é possível observar que a competitividade e o individualismo se manifestam de forma frequente nas relações sociais. O consumismo é uma das evidências da ocorrência destas características. Desde o livro lançado em 1987, chamado o espaço do cidadão, Milton Santos já evidenciava que, no Brasil, o primeiro direito que as maiores partes da sociedade buscam é o de consumidor e não o de cidadão. E o autor acrescenta que a busca acontece na intenção de privilégios e não de direitos.

E ainda, para Milton Santos, em sua obra “Por uma outra globalização”, ele denomina este processo de globalitarismo.

Desta forma, o termo globalização surge associado com a palavra totalitarismo, sendo que este último designa o processo político no qual o controle das ações está sob o domínio de uma pessoa ou grupo que indica como podem ocorrer as situações através de um sistema ideológico. Este termo é evocado, pois o globalitarismo acontece sobre a égide de um pensamento único controlado por poucos agentes que determinam as ações dos países, das pessoas e de instituições, dentre outros.

Globalização da Economia

A produção agrícola, industrial e de serviços nos diversos países obviamente não ficam restritos aos seus territórios.

A distribuição e a circulação desta produção dinamizam a economia e permitem os fluxos de capital. Entretanto esta distribuição, tanto da produção quanto de capital, não ocorre de maneira homogênea como o termo globalização sugere.

Alguns países permitem atrair investimentos estrangeiros, oferecendo facilidades tais como diminuição da contribuição tributária das empresas, para permitir a exploração das pessoas e da natureza do país. As empresas multinacionais se instalam na agricultura, nas fábricas, na agroindústria e embutem com esta ação uma noção de desenvolvimento e progresso com a distribuição de empregos, consequentemente o pagamento de salários, e são consideradas, para os governos e grande parte da população, como redentoras. Porém, indubitavelmente, seus interesses são apenas a geração de lucros e a reprodução do capital.

Outro problema são as taxações que os países ditos desenvolvidos submetem aos países em desenvolvimento que comercializam insumos agrícolas. Desta forma, com a diminuição das exportações, a economia destes países em desenvolvimento não tem condições de competir com os insumos produzidos nos países desenvolvidos.

A OMC – Organização Mundial do Comércio é responsável por fiscalizar estas práticas protecionistas. Os países importadores criam tributos aos produtos agropecuários, para impedir a entrada destas mercadorias, que são cultivadas ou criadas em outros países, para proteger os produtores nacionais.

A incoerência é que os países desenvolvidos solicitam a retirada das barreiras alfandegárias apenas para os insumos que são produzidos em seus territórios e são comercializados para outros países. Quando o caminho é inverso estes efetuam a cobrança de taxas aos países que exportam para seus territórios.

Um exemplo da distribuição desigual de proveitos do modo de produção capitalista é que de acordo com Dolffus (1994) as megalópoles da América do Norte, Tóquio e as grandes cidades da Europa Ocidental concentram as sedes das 500 maiores empresas financeiras e indústrias, governos e instituições que regulam a “ordem” mundial. É importante ressaltar que estes locais correspondem a 5% da população mundial e a 0,4% das superfícies de terras emersas do globo. Desta maneira, é possível observar que a “aldeia global” possui centros que concentram boa parte dos proveitos gerados por este processo.

A difusão da ideia de uma economia globalizada de forma homogênea é pertinente para quem protagoniza este modelo de consumo: conglomerados multinacionais, instituições financeiras e empresas de comunicação.

O consumo é o final de uma cadeia mercadológica que se inicia na pesquisa científica, na concepção e no desenvolvimento do produto; a publicidade é divulgada para que o produto circule e seja distribuído para ser consumido. A organização do capitalismo, no mundo globalizado promove o consumo, que é desigual entre as nações.

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E, ao mesmo tempo em que se propaga a ideologia da “aldeia global”, criam-se barreiras nas fronteiras dos países, considerados centrais e desenvolvidos. Essas barreiras algumas vezes são verdadeiras construções como muros e, outras vezes, impedimentos jurídicos, com uma série de advertências.

A xenofobia está cada vez mais presente. Após os atentados de 11 de setembro, a islamofobia se propagou. Os recentes atentados ocorridos na Noruega demonstram bem essa perspectiva. Quando foram noticiados os atentados na imprensa, todos já colocavam os possíveis grupos islâmicos que poderiam ser responsáveis pelo ocorrido.

Quando foi descoberto que um norueguês havia elaborado e executado o massacre, observou-se que há um preconceito emergente de extremistas nacionalistas na Europa.

Itália, Franca, Alemanha possuem grupos com esse perfil de não aceitar estrangeiros em seus territórios.

O Brasil no Mundo

Como já citado no capítulo referente ao processo de globalização, os países possuem dependência entre si, ainda que de forma desigual. Em cada período histórico, as nações podem ocupar posições distintas no cenário mundial.

É possível identificar que as nações possuem posições diferentes, quando comparamos a relação com outras nações.

Quando consideramos o mundo como um sistema, compreendemos as inter-relações entre as partes componentes (neste caso, as partes são as nações) que formam um todo articulado e dependente de suas partes que possuem funções distintas para a manutenção deste mesmo sistema.

Efetuando um recorte histórico a partir do século XV, é possível a alteração dos países que dominam as relações internacionais. Neste período, os países situados na península ibérica (Portugal e Espanha) duelavam na exploração do “novo mundo” e, além da regência internacional, através das grandes navegações, impunham sua forma de controle no mundo. É sabido que, neste momento, O Brasil era colônia de Portugal.

Com a descoberta das fontes de energia fossilista, na Inglaterra, no século XVIII, possibilitando o desenvolvimento industrial, este país se tornou rapidamente o “centro” do mundo. E este foi um dos motivos para a ocorrência da emancipação de Portugal por parte do Brasil, dado que, com o país livre dos portugueses, o Brasil necessitaria de apoio financeiro. Este fator o tornou dependente da Inglaterra. A Espanha e Portugal, líderes de outrora, não tinham a mesma disponibilidade de recursos naturais para transformar em energia e alimentar fábricas e começaram a exercer outras funções no sistema-mundo.

Ainda por causa do petróleo, outra força hegemônica, com larga supremacia econômica, foi se consolidando no final do século XIX e início do século XX, os Estados Unidos da América. As duas grandes guerras mundiais, acontecendo distante de seu espaço físico, fizeram com que a Europa destruída dependesse de sua capacidade bélica e financeira e os EUA se consolidaram como a liderança mundial.

Na atualidade, uma crescente discussão está ocorrendo em um período histórico multipolar, onde várias nações possuem a liderança das ações políticas e econômicas no mundo, ou ainda está ocorrendo a “Americanização” do mundo, com o domínio dos EUA.

Esta breve apresentação serve para a compreensão da posição dos países perante os outros e que a Geopolítica dos estados-nações é dinâmica. Depende não apenas de fatores econômico-financeiros, mas de estratégias políticas que contribuam para o desenvolvimento do estado.

O BRASIL NO MUNDO NO FINAL DO SÉCULO XX.

Nos últimos 20 anos, com a intensificação do processo de Globalização, e consequente interdependência das nações, mesmo que de maneira desigual, o Estado brasileiro oscilou nas suas posições em relação a sua autonomia no sistema-mundo.

Para compreender a situação do Brasil e suas relações, é indispensável recorrer à definição de alguns conceitos tais como o: Estado, governo, governança e geopolítica. É importante observar a distinção conceitual e sua relação uns com os outros.

Estado: É uma sociedade que se constitui essencialmente de um grupo de indivíduos unidos e organizados, permanentemente em um espaço físico (comumente chamado de território), para realizar um objetivo comum. Essa sociedade política é determinada por normas de direito positivo, é hierarquizada na forma de governantes e governados e tem como finalidade o bem público. É provido de soberania.

Governo: São as várias formas possíveis de regrar uma sociedade. Os governos podem ser democráticos, ditaduras, monárquicos, teocracia dentre outros. Pode ser considerado como uma organização coletiva para administrar o estado.

Governança: É a maneira pela qual o poder é exercido na administração dos recursos sociais e econômicos de um país visando o desenvolvimento, e a capacidade dos governos de planejar, formular e programar políticas e cumprir funções

Geopolítica: São as relações existentes entre os Estados nacionais no mundo. Compreende as estratégias dos estados para se relacionar com outros estados ou organismos supranacionais como a ONU, o FMI, dentre outros.

O Estado brasileiro possui um governo de regime democrático, através da democracia representativa, ou seja, nos pleitos são eleitos os representantes da sociedade civil para compor o próprio governo e, assim, gerenciar o estado. De acordo com a eleição de diferentes políticos nos pleitos, o governo nacional pode ter suas prioridades alteradas.

A TRANSIÇÃO ECONÔMICA NACIONAL

No Brasil, no início da década de 1990, no período em que o presidente Fernando Collor de Mello esteve à frente do poder, as políticas financeiras estavam de acordo com as regras básicas neoliberais do Consenso Washington. Uma das argumentações para adoção das medidas preconizadas pelo consenso no Brasil era o problema da inflação no Brasil. Com isso, houve a abertura do total do capital estrangeiro no Brasil inclusive com privatizações de empresas estatais. Na geopolítica mundial, o Brasil apenas seguia os EUA e aumentou cada vez mais sua dívida externa.

Após o impeachment de Collor, o então presidente Itamar Franco conseguiu controlar a inflação, com a criação do Plano Real (auxiliado pelo então Ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso), em 1993, que até os dias atuais contribui para a estabilidade econômica nacional.

O fortalecimento da moeda nacional, com a criação do Real, auxiliou o país a possuir uma política externa mais autônoma em relação a outros países hegemônicos, além de possuir uma participação mais efetiva nos organismos internacionais. Até o início do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2007, o Brasil era devedor do Fundo Monetário Internacional – FMI. Em Abril de 2009, o Brasil entrou para o grupo de credores do FMI, ou seja, o Brasil passou a emprestar dinheiro ao Fundo. Atualmente, são 47 países que emprestam dinheiro ao FMI, dentre os 185 que fazem parte do Fundo.

ECONOMIA E RELAÇÕES COMERCIAIS BRASILEIRAS

O Brasil está cada vez mais fortalecendo sua economia, através das políticas implantadas com diversas medidas para estimular a produção e, consequentemente, as exportações.

As importações também estão em indicies acentuados nos últimos anos. Os últimos dados do PIB nacional demonstram que, nos últimos 10 anos, apenas em 2009, ano de ocorrência do colapso financeiro imobiliário nos EUA, o PIB (Produto Interno Bruto nacional) regrediu, sendo que, no ano de 2010, o PIB brasileiro cresceu 7,5%.

Em 2010, a balança comercial brasileira registrou um superávit de US$ 20, 278 bilhões. Isto ocorreu, pois as exportações nacionais (US$ 201,916 bilhões) superaram as importações (US$ 181,638 bilhões).

O quadro a seguir demonstra quem são os principais parceiros comerciais do Brasil.

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É possível observar que os principais parceiros comerciais do Brasil na atualidade são: Estados Unidos, maior economia do mundo, China, que assim como o Brasil faz parte dos BRICS, e a Argentina, vizinha e parceira no Mercosul.

Os principais produtos exportados pelo Brasil são: minério de ferro, ferro fundido e aço; óleos brutos de petróleo; soja e derivados; automóveis; açúcar de cana; aviões; carne bovina; café e carne de frango.

Com relação aos produtos importados são: petróleo bruto; circuitos eletrônicos; peças para veículos, medicamentos; automóveis, óleos combustíveis; ulhas em pó, gás natural e motores para aviação.

POLÍTICA EXTERNA

A atuação do Brasil com relação à política externa atualmente ocorre com o intuito de ampliar as relações brasileiras no exterior. Isto aconteceu de forma embrionária no governo de Itamar Franco com a assinatura do Protocolo de Ouro Preto em 1994, que estabeleceu as bases institucionais para a criação do Mercosul e da afirmação da aplicação da TEC–Tarifa externa Comum entre as nações integrantes deste mercado comum.

Porém, a partir do governo Lula, o Brasil iniciou uma presença mais intensa na posição de liderança entre os países em desenvolvimento. Neste período, o governo brasileiro estava disposto a equipar sua atuação com os países desenvolvidos, numa perspectiva integradora, e não meramente subalterna ou hegemônica nas relações com outros estados-nações.

Neste período, é possível destacar a posição de liderança do Brasil na América Latina, Caribe e África e uma cooperação para a diminuição da dependência dos países do Norte. Houve um estreitamento nas relações com outros governos de esquerda na América Latina tais como os da Argentina, Chile, Bolívia e Venezuela.

Além disso, as parcerias bilaterais se tornaram prioridade, sobretudo com os países emergentes do chamado BRICS (grupo composto pelo Brasil, Rússia, Índia, China e áfrica do Sul).

O Brasil atualmente possui o reconhecimento de que é um importante ator global no mundo multipolarizado, em relatório elaborado pelo Conselho de Relações Exteriores, situado nos EUA e apresentado em Julho de 2011. Esta é apenas uma das evidências da eficaz política externa, realizada nos últimos anos no país.

A IMPORTÂNCIA DA DISPONIBILIDADE DE RECURSOS NATURAIS NA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA
As potencialidades naturais brasileiras acentuam a cobiça internacional para seu controle. A tropicalidade do país, ou seja, disponibilidade de insolação e chuvas possibilita ao país possuir uma variada biodiversidade, além de espaços onde podem ser cultivados insumos agrícolas que interessam empresas em estados internacionais.

Disponibilidade de recursos hídricos para produção de energia, a descoberta da existência de petróleo na camada pré-sal e a disponibilidade de terras para cultivos diversos, colocam o Brasil numa situação de destaque. A posição que o Brasil está adotando para gerenciar esta condição é a hegemônica, pois não permite a interferência de outros estados nas suas decisões.

Diferente de outros países que não possuem as condições de tropicalidade supracitada, o Brasil se beneficia dessa potencialidade natural e possui fontes energéticas diversificadas

Tipos de fontes de energia utilizadas pelo Brasil:

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Diversos programas e ações governamentais estão sendo implantados com o intuito de diversificar cada vez mais as fontes. É possível citar o PNPB – Programa Nacional de Produção e uso de Biocombustíveis, a construção de usinas hidrelétricas e a exploração da Plataforma pré-sal.

Este contexto é estratégico para o Brasil não apenas para a produção interna mas também para manter o controle de seus recursos diante das pressões de organismos e estados nacionais que são, por exemplo, contra a construção de usinas hidrelétricas na Amazônia, enquanto alguns países possuem usinas nucleares que cada vez mais se tornam degradantes à natureza e à sociedade.