O PENSAMENTO GEOGRÁFICO

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O PENSAMENTO GEOGRÁFICO

   Alguns autores definem a Geografia como o estudo da superfície terrestre. Esta concepção é a mais usual, e ao mesmo tempo a de maior vaguidade. Pois a superfície da Terra é a teatro privilegiado (por muito tempo o único) de toda reflexão científica, o que desautoriza a colocação de seu estudo como especificidade de uma só disciplina.

   A definição da Geografia, como estudo da diferenciação de áreas, é uma outra proposta existente. Tal perspectiva traz uma visão comparativa para o universo da analise geográfica. Existem ainda autores que buscam definir a Geografia como estudo do espaço. Para estes, o espaço seria passível de uma abordagem especifica, a qual qualificaria a análise geográfica Assim, a especificidade estaria no fato de buscar essa disciplina explicar o relacionamento entre os dois domínios da realidade.

   Nesse primeiro passo vive-se na Geografia Tradicional, a geografia que tem seu objeto de estudo ainda indefinido, momento esse que a Geografia ainda não um grau de epistemologia seguro. Que só será alcançado na modernidade. Enquanto isso esta geografia se sustentar em conceitos naturais, e é uma ciência descritiva, de observação dos elementos naturais, calcada nos pressupostos de seus precursores Humboldt e Ritter.

O Positivismo como fundamento da Geografia Tradicional

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   É nesta concepção filosófica e metodológica que os geógrafos vão buscar suas orientações gerais (as que não dizem respeito especificamente a Geografia). Os postulados do positivismo (aqui entendido como o conjunto das correntes não-dialeticas) vão ser o patamar sobre o qual se ergue o pensamento geográfico tradicional, dando-lhe unidade.

   Tal perspectiva naturalizante aparece com clareza no fato de buscar esta disciplina a compreensão do relacionamento entre o homem e a natureza, sem se preocupar com a relação entre os homens. Assim a unidade do pensamento geográfico tradicional adviria do fundamento comum tomado ao positivismo, manifesto numa postura geral, profundamente empirista e naturalista.

   Esta perspectiva positivista talvez seja a mais influente do pensamento geográfico tradicional, essa perspectiva naturalização se mostra com nitidez no fato da Geografia buscar a compreensão da relação entre o homem e a natureza, sem se preocupar com as relações sociais. Desta maneira, a abordagem humana, representado nas relações sociais, fica fora do seu âmbito de estudos. Colocando o homem apenas como um elemento da paisagem.

  O positivismo significava uma Geografia que deveria acumular conhecimentos empíricos e descritivos. Desta forma a Geografia passou a descrever lugares, fazendo levante de informações e a localizando fenômenos, descrevendo os traços naturais e sociais da superfície terrestre numa abordagem individualizadora dos lugares que pudesse instrumentalizar a expansão do capital monopolista do período

Origens e pressupostos da Geografia

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   A sistematização do conhecimento geográfico so vai ocorrer no inicio do século XIX. E nem poderia ser outro modo, pois pensar a Geografia como um conhecimento autônomo, particular, demandava um certo número de condições históricas, que somente nesta época estarão suficientemente maturadas.

    O primeiro destes pressupostos dizia respeito ao conhecimento efetivo da extensão real do planeta. Isto é, era necessário que a Terra toda fosse conhecida para que fosse pensado de forma unitária o seu estudo.

   Outro pressuposto da sistematização da Geografia era a existência de um repositório de informações, sobre variados lugares da Terra. Isto é, que os dados referentes aos pontos mais diversificados da superfície já estivessem levantados (com uma margem de confiança razoável) e agrupados em alguns grandes arquivos. Tal condição incidia na formação de uma base empírica para a comparação em Geografia.

   Outro pressuposto para o aparecimento de uma Geografia unitária residia no aprimoramento das técnicas cartográficas, o instrumento por excelência do geógrafo. Era necessário haver possibilidade de representação dos fenômenos observados, e da localização dos territórios.

   A sistematização do conhecimento da Geografia, como uma ciência particular e autônoma, ocorreu, sobretudo nas transformações operadas na vida social, pela emergência do modo de produção capitalista, vai ocorrer na Alemanha em séculos posteriores, e se sustentara nas bases do evolucionismo para produção do conhecimento.

A sistematização da Geografia de Humboldt e Ritter

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Karl Ritter

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Humboldt

   A falta da constituição de um Estado nacional, a extrema diversidade entre os vários membros da confederação, a ausência de relações duráveis entre eles, a inexistência de um centro organizador do espaço, ou de um ponto de convergência das relações econômicas, – todos estes aspectos conferem a discussão geográfica uma relevância especial, para as classes dominantes da Alemanha, no inicio do século XIX..

   As primeiras colocações, no sentido de uma Geografia sistematizada, vão ser obra de dois autores prussianos ligados a aristocracia: Alexandre Von Humboldt, conselheiro do rei da Prússia, e Karl Ritter, tutor de uma família de banqueiros. Humboldt possuía uma formação de naturalista e realizou inúmeras viagens. Sua proposta de Geografia aparece na justificativa e explicitação de seus próprios procedimentos de analise..

   A obra de Ritter já e explicitamente metodológica. A formação de Ritter também e radicalmente distinta da de Humboldt, enquanto aquele era geólogo e botânico, este possui formação em Filosofia e Historia. Ritter define o conceito de “sistema natural”, isto é, uma área delimitada dotada de uma individualidade. A Geografia deveria estudar estes arranjos individuais, e compará-los. Assim, a Geografia de Ritter é, principalmente, um estudo dos lugares, uma busca da individualidade destes.

    Fica bem claro que as maiores contribuições para a sistematização do pensamento geográfico saíram da Alemanha, isso não quer dizer não ter havido produção de conhecimentos em outros lugares, mas porque é justamente na antiga Prússia que vai haver o maior número de cientistas que abordaram essa linha de conhecimento, e ainda os precursores da Geografia Ritter e Humboldt.

Ratzel e a Antropogeografia

RATZEL

Ratzel

.     O principal livro de Ratzel, publicado em 1882, denomina-se Antropogeografia – fundamentos da aplicação da Geografia à Historia. Nela , Ratzell definiu o objeto geográfico como o estudo da influencia que as condições naturais exercem sobre a humanidade. Estas influencias atuariam, primeiro na fisiologia e na psicologia dos indivíduos, e, através deste, na sociedade. Em segundo lugar, a natureza influenciaria a própria constituição social, pela riqueza que propicia, através dos recursos do meio em que esta localizada a sociedade. A natureza também atuaria na possibilidade de expansão de um povo, obstaculizando-a ou acelerando-a. Para ele a sociedade é um organismo que mantém relações duráveis com o solo, manifestas, por exemplo, nas necessidades de moradia e alimentação. O homem precisaria utilizar os recursos da natureza, para conquistar sua liberdade, que, em suas palavras “é um dom conquistado as duras penas”. Justificando essas colocações Ratzel elabora o conceito de “espaço vital”..

Vidal de La Blache e a Geografia Humana

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Paul Vidal de La Blache

   Para compreender o processo de eclosão do pensamento geográfico na França, é necessário enfocar as feições gerais do desenvolvimento histórico Frances do século XIX. A França foi o pais que realizou, de forma mais pura, uma revolução burguesa. Ali os resquícios feudais foram totalmente varridos, a burguesia instalou seu governo, dando ao Estado a feição que mais atendia a seu interesses.

.   Vidal de La Blache definiu o objeto da Geografia como a relação homem-natureza, na perspectiva da paisagem. Colocou o homem como um ser ativo, que sofre influencia do meio, porém que atua sobre este, transformando-o. Observou que as necessidades humanas são condicionadas pela natureza, e que o homem busca as soluções para satisfazê-las nos materiais e nas condições oferecidas pelo meio..

   E, sobretudo como forma de justificação da burguesia francesa, Vidal e Ratzel justificariam a evolução e expansão de seus países com visões semelhantes, mas porem um tentando encobrir o outro, ou seja, criaram linhas de pensamento que marcam a produção conhecimento geográfico tradicional Ratzel o Determinismo, Vidal de La Blache o Possibilismo. Vidal produz uma Geografia humana com o Possibilismo, onde a natureza existe, mas não determina, apenas dá possibilidades ao homem, ela existe serve, possibilita e sofre a ação do homem.

Os desdobramentos da proposta lablachiana

   La Blache criou uma doutrina, o Possibilismo, e fundou a escola francesa de Geografia. E, mais trouxe para a França o eixo da discussão geográfica, situação que se manteve durante todo o primeiro quartel do século atual (XX). Com Vidal, e de forma progressiva a partir dele, o conceito de região foi humanizado; cada vez mais, buscava-se sua individualidade nos dados humanos, logo, na historia.

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      Regiões

   A idéia de região propiciou o que viria a ser a majoritária e mais usual perspectiva de analise do pensamento geográfico: a Geografia Regional. Esta perspectiva se difundiu bastante, enfocando regiões de todos os quadrantes da Terra. Ate hoje, estes estudos são regularmente realizados. Por isso, pode-se dizer que a Geografia Regional foi o principal desdobramento da proposta vidalina.

   Os desdobramentos da geografia vidalina, que importou o conceito de região de Gallois que o já havia trazido da Geologia se expandiram por vários elementos de estudos, com abordagem desse novo conceito, Vidal humaniza a região, e que dessa forma de analise regional, muitos conhecimentos desenvolvidos. Foi a partir dele que se desenvolveu a Geografia Regional, precipuamente a analise regional é o mais usual na Geografia.

   Muitas especializações foram criadas a partir da abordagem regional, dentre ela a Geografia Urbana, Industrial, Comercio etc. As proposições de La Blache chegaram ate os historiadores, Lucien Febvre e outros.

Alem do Determinismo e do Possibilismo: a proposta de Hartshorne

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R. Hartshorne

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A. Hettner

   Outra corrente do pensamento geográfico, que se poderia denominar com certa impropriedade Geografia Racionalista, vinculou-se ao nome de A. Hettner e R. Hartshorne. O fato de se denominar racionalista esta corrente advém de sua menor carga empirista, em relação às anteriores. Esta perspectiva, a terceira grande orientação dentro da Geografia Tradicional, privilegiou um pouco mais o raciocínio dedutivo, antecipando um dos moveis da renovação geográfica nos anos sessenta.

   Hettner vai propor a Geografia como ciência que estuda “a diferenciação de áreas”, isto é, a que visa explicar “por quê” e “em que” diferem as porções da superfície terrestre; diferença esta que, para ele, é apreendida ao nível do próprio senso comum. De todo modo as teses hettenerianas foram pouco divulgadas. Somente através de Hartshorne, um renomado geógrafo americano, que a proposta de Hettner passou a ser amplamente discutida..

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   Entendo que se trata de obra de cuidadoso rigor metodológico, que explora e conclui sobre o pensamento geográfico, sem desvios ou distorções. É uma obra original e valiosa porque aborda a origem do pensamento geográfico tradicional: Humboldt, Ritter, Ratzel, La Blache e etc.

Da Geografia Crítica

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    A partir de meados da década de 40 (do século XX), com o advento da expansão capitalista e suas consequências na organização do espaço e na estrutura da sociedade num contexto da ciência moderna, surge a Nova Geografia também denominada de Geografia Quantitativa ou Teorética. Com base no positivismo lógico, os estudos geográficos são abordados à luz de modelos de arranjos espaciais com uso de técnicas estatísticas e matemáticas. Na análise do espaço geográfico, desprezam-se as relações sociais e escamoteiam-se as questões políticas com uma postura de ciência ‘neutra’.

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   No Brasil, esta corrente predominou na fase da ditadura militar, estando a serviço do Estado. Rebatendo a Geografia Quantitativa, nasceu a Geografia Crítica intitulada também de Geografia Marxista, com herança da Geografia Radical cujo berço foi os Estados Unidos, nos anos 60, proveniente da situação de contestação à guerra do Vietnã tem como características a relevância social, e a preocupação em ser atuante, ou seja, dá voz às questões sociais e às lutas de classes com base no pensamento de Karl Marx.

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Karl Marx

No Brasil, A Geografia Crítica surgiu na década de 70, tendo como um dos expoentes Milton Santos a partir de sua postura política e de uma relevante produção acadêmica. Na atualidade, temos diversas tendências que  retratam a Geografia Contemporânea como a Humanística, a Idealista e a Ecológica com trabalhos de renovação do pensamento geográfico. A linha humanística caracteriza-se por valorizar a experiência do indivíduo ou de grupos sociais a partir da percepção e do sentir destes sobre o território.

YVES LA COSTE

Yves Lacoste

David Harvey

David Harvey

As relações do indivíduo são analisadas desde seu habitat natural, tanto num contexto local quanto global. De forma sistemática, o quadro a seguir mostra uma periodização das correntes do pensamento geográfico, bem como seus principais teóricos, as categorias de análises mais utilizadas e os diálogos com outras ciências, sendo importante salientar que as correntes de pensamento possuem um período de maior relevância, porém todas coexistem nos períodos em que uma corrente é considerada dominante.

MILTON SANTOS

Milton Santos

AZIZ AB-SABER

Aziz Ab-Saber

VESENTINE

Vesentini

   Destacam-se Yves Lacoste, David Harvey ,Milton Santos, Aziz Ab-Saber e vesentini. De acordo com essa teoria, a Geografia contribui para a formação da cidadania. O cidadão não é consumidor: é o indivíduo informado, capaz de articular conceitos e refletir sobre o contexto no qual vive, portanto pode fazer escolhas. Nesse sentido, a Geografia  é uma “gramática do mundo”.

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