GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

9. GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

Para o estudo da população, é essencial que seja realizada uma análise estatística acompanhada das características históricas e geográficas das sociedades existentes no planeta. Podemos iniciar esta análise com uma pergunta: Quais são as características gerais da população mundial? A resposta para esta pergunta será respondida ao longo deste capítulo.

Mas o que é a população? Segundo Moreira e Sene (2005), é o conjunto de pessoas que residem em determinada área, que pode ser um bairro, um município, um estado, um país ou até mesmo o planeta como um todo. Ela pode ser classificada segundo vários aspectos, como: religião, etnia, local de moradia (urbana ou rural), atividade econômica (ativa ou inativa), faixa etária (jovens adultos e idosos) e gênero (masculino e feminino). Além disso, as condições de vida e o comportamento da população são retratados através de indicadores sociais: taxas de natalidade e mortalidade, expectativa de vida, índices de analfabetismo, participação na renda etc.

Conhecer as populações quanto ao número e suas condições socioeconômicas é necessário para implantação de projetos e medidas que atendam à realidade de uma determinada população. O censo (levantamento periódico do número de pessoas de um país ou grupo social), ao ser realizado, tem como objetivo conhecer o número de habitantes, os índices de crescimento vegetativo, índices de natalidade, índices de mortalidade, qualidade de vida, distribuição de renda etc., tais informações servem para que os governos realizem os orçamentos anuais direcionados aos serviços públicos, como educação, saúde, infra-estrutura, geração de emprego e muitas outras.

Segundo dados da ONU (Organização das Nações Unidas), no ano de 2011 a população mundial atingirá 7 bilhões de habitantes e projeções dizem que esse número pode atingir a marca dos 9 bilhões até 2050, como pode ser visto na figura abaixo:

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Cerca de 75% da população vivem em nações menos desenvolvidas) e com menos de 2 dólares por dia. A distribuição desta população, porém, sempre foi muito irregular ao longo de milhares de anos: os lugares anecúmenos permaneceram praticamente desabitados; por outro lado, os lugares ecúmenos ficaram superpovoados e passaram a ser chamados por alguns pesquisadores de formigueiros humanos.

Crescimento Populacional

Desde a Antiguidade, o crescimento populacional é tema de reflexão para muitos estudiosos que se preocupam com o equilíbrio entre a organização da sociedade, a dinâmica demográfica e a exploração dos recursos naturais. Desde as primeiras contagens da população mundial, sempre foi registrado um aumento desta por diversos fatores. Ora se registravam aumentos mais consideráveis, ora aumentos mais moderados, estes causados por grandes guerras ou alastramento de doenças muito graves, por exemplo. Em diversos países europeus, o advento da Revolução Industrial foi acompanhado por um incremento demográfico sem precedentes históricos, sendo registrado um crescimento vegetativo da população do continente atingindo o seu ponto máximo: entre 1,0 e 1,5% ao ano.

O número de pessoas espalhadas pelo planeta e a quantidade de comida disponível para alimentá-las começou a ser motivo de preocupação em diversos países. Na China, há mais de mil anos, textos apontavam as vantagens do que era considerada a quantidade ideal de pessoas para manter um hipotético equilíbrio entre a disponibilidade de terras e a população local, indicando que o governo deveria incentivar as migrações de zonas muito povoadas para outras com menor densidade de ocupação. Pesquisadores advertiram que não seria possível aumentar as áreas de cultivo na mesma velocidade do crescimento populacional, o que tenderia a aumentar os níveis de pobreza e a escassez de alimentos ao longo das sucessivas gerações (MOREIRA & SENE, 2005).

Somente a partir do século XVIII, com o desenvolvimento do capitalismo, o crescimento populacional passou a ser estudado como um fato positivo, uma vez que, quanto mais pessoas houvesse, mais consumidores também haveria. Com isso, algumas teorias sobre o aumento da população mundial foram criadas e discutidas. Aqui falaremos sobre as três principais teorias: malthusiana, neomalthusiana e reformista.

Teoria de Malthus

Em 1798, o economista inglês Thomas Robert Malthus, formulou a sua teoria, publicada no “Ensaio sobre a população”, a qual se apoiava basicamente em dois postulados:

⇒ A população, se não ocorrerem guerras, epidemias, desastres naturais etc., tenderia a duplicar a cada 25 anos. Ela cresceria em progressão geométrica (2, 4, 8, 16, 32…) e constituiria um fator variável, que cresceria sem parar.

⇒ O crescimento da produção de alimentos ocorreria apenas em progressão aritmética (2, 4, 6, 8, 10…) e possuiria certo limite de produção, por depender de um fator fixo: a própria extensão territorial dos continentes. Malthus concluiu que o ritmo de crescimento populacional seria mais acelerado que o ritmo de crescimento da produção de alimentos. Também previa que um dia as possibilidades de aumento da área cultivada estariam esgotadas, tendo como consequência a falta de alimentos para abastecer as necessidades de consumo da população do planeta. Como era pastor da Igreja Anglicana, propunha que as pessoas só tivessem filhos se possuíssem terras cultiváveis para alimentá-los.

Hoje, verificamos que suas previsões não se concretizaram: a população não duplicou a cada 25 anos, e a produção de alimentos se acelerou graças ao desenvolvimento tecnológico.

A fome castiga, nos dias de hoje, mais da metade da população mundial, não por conta do crescimento da população, mas, sim, pela má distribuição da renda.

Teoria Neomalthusiana

A teoria neomalthusiana foi criada em um contexto histórico da busca dos países que passaram pelo processo de colonialismo e imperialismo, com o objetivo de diminuir as desigualdades econômicas do planeta realizadas em seus territórios. Na década de 1960, no auge do crescimento da população mundial, foi formulada como uma tentativa de explicar a ocorrência da fome e do atraso nos países menos desenvolvidos. Ela é defendida por setores da população e dos governos dos países mais desenvolvidos – e por setores dos países menos desenvolvidos – com o intuito de se esquivarem das questões econômicas.

Após a Segunda Guerra Mundial, as taxas de mortalidade declinaram nos países do globo. A difusão de novos medicamentos, a vacinação em massa, o controle crescente sobre as epidemias (principalmente a difteria, tifo e malária) chegavam aos países mais pobres com décadas de atraso, diferentemente dos países ricos. Esse conjunto de inovações no campo da prevenção e da cura de doenças epidêmicas, que ajudou no controle da mortalidade desses países ficou conhecido como Revolução Médico-Sanitária.

Segundo essa teoria, países que detivessem altas taxas de natalidade necessitariam de grandes investimentos sociais em educação e saúde, sobrando menos recursos para serem investidos nos setores agrícola e industrial, o que impediria o pleno desenvolvimento das atividades econômicas e, consequentemente, da melhoria das condições de vida da população. Ainda sobre esta teoria, quanto maior o número de habitantes de um país, menor será a renda per capita e a disponibilidade de capital a ser distribuído pelos agentes econômicos.

Seus defensores passam a propor programas de controle da natalidade nos países menos desenvolvidos mediante a disseminação de métodos anticoncepcionais na tentativa de enfrentar problemas socioeconômicos, partindo exclusivamente de posições contrárias à natalidade, e ainda de acobertar os efeitos danosos dos baixos salários e das péssimas condições de vida que vigoram nos países subdesenvolvidos.

Teoria Reformista

Em resposta à teoria neomalthusiana, na mesma época foi criada a teoria Reformista por representantes dos países subdesenvolvidos, que chegam a uma conclusão inversa à apresentada pelas duas teorias demográficas mencionadas anteriormente.

Altas taxas de natalidade registradas em alguns países não é a causa e sim a consequência do subdesenvolvimento. Países mais desenvolvidos tiveram um controle da natalidade de maneira simultânea à melhoria da qualidade de vida da população, além da medida em que foram se alterando os modos e os projetos de vidas das famílias, as quais, em geral, passaram a ter menos filhos ao longo do século XX.

Nos países menos desenvolvidos, isso só se tornou um empecilho porque não foram realizados investimentos sociais,  principalmente em educação e saúde. Com isso, foi gerado um imenso contingente de mão-de-obra sem qualificação necessária para ingressar no mercado de trabalho, tendendo a empobrecer enormes parcelas da população desses países. Para os defensores desta teoria, a tendência do controle espontâneo da natalidade é facilmente verificada nas características das famílias brasileiras de classe baixa e classe média, que, à medida que se obtêm melhores condições de vida, tendem a ter menos filhos. Observando que se não tiverem renda suficiente para sustentar os filhos, com todos os gastos que eles levam, qual o motivo de terem mais filhos? Por analisar os problemas econômicos, sociais e demográficos de forma objetiva, partindo de situações reais do cotidiano das pessoas, esta teoria torna-se mais realista nos dias atuais.

Transição Demográfica

Então, podemos observar que os malthusianos e os neomalthusianos tinham como preocupação central o crescimento excessivo da população mundial definida como explosão demográfica por eles. Porém essas teses foram contestadas e comprovadas sua contestações, por não tratarem de situações reais do cotidiano das pessoas. O que ocorreu (e ainda ocorre) na realidade mundial é o que se chama de transição demográfica.

A transição demográfica se refere à transição entre duas situações de crescimento demográfico relativamente reduzido. O período pré-transicional, conhecido como regime demográfico tradicional, se define por uma alta taxa de mortalidade (causada por crises periódicas de fome e por grandes epidemias) e por uma taxa de natalidade também elevada. Na primeira fase da transição demográfica, ocorre a redução das taxas de mortalidade, e registra-se um elevado crescimento vegetativo da população. A segunda fase caracteriza-se pela redução das taxas de natalidade e, consequentemente, do crescimento vegetativo. A terceira fase, ou seja, o período pós-transicional, conhecido como regime demográfico moderno, se define por baixas taxas de mortalidade e de natalidade (MAGNOLI & ARAÚJO, 2005). A transição demográfica é ilustrada na figura abaixo:

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Indicadores Demográficos

Quando nos referimos à população, temos que levar em consideração conceitos que são utilizados para expressar as diversas características da população espalhada pelo globo, os indicadores demográficos. A exemplo disso seguem alguns conceitos básicos que são utilizados nos estudos populacionais:

População Absoluta – corresponde ao número total de habitantes de um determinado local. As regiões ou países que registram números elevados de população absoluta classificam-se como sendo populosos.

População Relativa (Densidade Demográfica) – indica a relação entre a população absoluta e a área territorial (km²) que ela ocupa. Este índice demonstra uma média da distribuição da população no espaço e não exatamente como se processa a distribuição, pois, em cada região ou país, encontraremos áreas mais ou menos densamente povoadas. Pode ser expressa pela seguinte relação:

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A diferença entre os países é indicativa da desigualdade na distribuição da população no planeta. Existem países densamente povoados, apesar de possuírem uma pequena população absoluta, e países com fraca densidade populacional, mesmo possuindo uma significativa população absoluta.

Taxa de Natalidade – é a relação entre o número de nascimentos ocorridos em um ano e o número de habitantes. Obtemos essa taxa, tomando os nascimentos ocorridos durante um ano, multiplicando-se por 1000 e dividindo o resultado pela população absoluta, ou seja:

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Taxa de Mortalidade – é a relação entre o número de óbitos ocorridos em um ano e o número de habitantes. Obtemos essa taxa, tomando os óbitos ocorridos durante um ano, multiplicando-os por 1000 e dividindo o resultado pela população absoluta, ou seja:

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Taxa de Mortalidade Infantil – expressa a proporção entre o número de crianças que morrem antes de completar 01 ano de vida e o total das crianças que nasceram em uma determinada população (MAGNOLI & ARAÚJO, 2005).

Crescimento Vegetativo – podendo também ser chamado de crescimento natural, é a diferença entre as taxas de natalidade e as taxas de mortalidade vigentes durante certo período em uma determinada população; a diferença positiva ilustra que o número de nascimentos é maior que o número de mortes; a diferença negativa demosnstra o número de nascimentos menor que o número de mortes; e nulo quando o número de nascimentos é igual ao de mortes. Quanto maior a diferença, maior é o crescimento natural da população (MAGNOLI & ARAÚJO, 2005).

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Taxa de Fecundidade – indica o número médio de filhos que uma mulher teria ao final de sua idade reprodutiva. A taxa de fecundidade igual a 2,1 é considerada a taxa de reposição, isto é, em uma situação na qual as mulheres têm, em média, 2,1 filhos ao longo de sua vida, o tamanho da população se mantém estável (MAGNOLI & ARAÚJO, 2005).

Expectativa de Vida – é o número médio de anos que um grupo de indivíduos nascidos no mesmo ano pode esperar viver, se mantidas, desde o seu nascimento, as taxas de mortalidade estudadas no ano de observação. É calculada considerando-se, além das taxas de mortalidade geral e infantil, segundo a renda, o acesso a serviços de saúde, saneamento, educação, cultura e lazer, bem como os índices de violência, criminalidade e poluição do local onde vive a população. Segundo pesquisa realizada e divulgada pelo IBGE em 2009, a expectativa do brasileiro ao nascer passou de 72,8 anos para 73,17 anos, um crescimento de três meses e 22 dias (0,31 anos). No período entre 1980 e 2009, a alta foi de 10,6 anos (10 anos, 7 meses e 6 dias). (IBGE, 2011)

Estes indicadores demográficos são vistos como indicadores de qualidade de vida de um país, região ou localidade. Podem também ser utilizados para aferir o retorno de investimentos feitos pelos governos ou por empresas privadas na melhoria das condições de vida da população, como na educação, saúde, segurança etc, e para compor vários índices, tais como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

Atualmente, o que se verifica na média mundial é uma queda dos índices de natalidade e mortalidade, embora em alguns países as taxas ainda se mantenham muito elevadas. Essa queda está relacionada principalmente ao êxodo rural e suas consequências no comportamento demográfico, como: maior custo para criar os filhos, o acesso mais facilitado aos métodos anticoncepcionais, o trabalho feminino extradomiciliar, aborto, acesso à assistência médica, saneamento básico e programas de vacinação (MAGNOLI & ARAÚJO, 2005)

Estrutura Geral da População.

O estudo da estrutura da população pode ser dividido em três categorias: número, sexo e idade dos habitantes – esses dados, obtidos pelo censo demográfico, são expressos em um gráfico chamado pirâmide de idades ou pirâmide etária; distribuição da população economicamente ativa (PEA) por setores econômicos: primário, secundário e terciário; e a distribuição de renda.

População Economicamente Ativa

Para representar o número de habitantes e sua distribuição por sexo e grupos de idade, utiliza-se a pirâmide etária ou das idades. As características das pirâmides etárias variam de acordo com as condições do país e as características de sua população, consistindo na divisão do mundo em países desenvolvidos e subdesenvolvidos, cujas pirâmides etárias apresentam, respectivamente, o seguinte aspecto padrão:

⇒ Pirâmide 1: país subdesenvolvido, onde se nota alta taxa de natalidade – comprovada pela base larga – e modesta expectativa de vida, evidenciada pelo topo mais estreito.

⇒ Pirâmide 2: país desenvolvido, onde se nota baixa taxa de natalidade – o que explica a base estreita da pirâmide – e elevada expectativa de vida, comprovada pelo topo mais largo.

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Além dessas características, quando observamos uma pirâmide etária, é necessário termos em mente, ainda, o contexto histórico da população recenseada, para que se conheça a causa de alguma configuração incomum no gráfico.

A PEA (População Economicamente Ativa) nos Três Setores da Economia

Sabemos que o perfil da economia dos países desenvolvidos difere muito daquele encontrado no mundo menos desenvolvido. No primeiro grupo de países, os setores primários (atividades agrícolas, de garimpo, pesca artesanal) e secundários (indústria e de construção civil) da economia tendem a empregar cada vez menos trabalhadores em decorrência da elevada automação que, somada à mecanização da agricultura e à sofisticação do padrão de produção da indústria, deu origem à sociedade pós-industrial, onde também temos trabalhadores do setor terciário da economia (atividade comercial – formal e informal –, de serviços e de pesquisa). Por sua vez, nos países menos desenvolvidos, a mecanização do campo ainda não está completa, ao mesmo tempo em que a indústria apresenta um patamar tecnológico inferior àquele encontrado na atividade industrial dos países desenvolvidos. Consequentemente, esses dois setores da economia ainda tendem a gerar mais emprego.

Tradicionalmente, é comum classificar as atividades primárias como rurais e as secundárias e terciárias como urbanas. Hoje em dia, porém, graças à modernização dos sistemas de transportes e de comunicações, verificada em extensas áreas do planeta, ampliaram-se as possibilidades de industrialização e a oferta de serviços no campo. Por exemplo, nas modernas agroindústrias, as atividades industriais e de serviços empregam mais pessoas do que as atividades agrícolas (primárias).

Devido à crescente imbricação das atividades econômicas, as estatísticas que mostram a distribuição da população economicamente ativa (PEA) nos três setores da economia primário, secundário e terciário), ainda muito utilizados, já não dão conta da complexidade da realidade atual, fato materializado nos complexos agroindustriais e em muitos setores industriais.

Distribuição da PEA em países selecionados – 2002:

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As condições econômicas refletidas na distribuição da mão-de-obra por atividade econômica, salvo em casos excepcionais, como em áreas desérticas ou montanhosas, devem ser analisadas sempre tendo como base a agropecuária. A participação da PEA em atividades industriais não reflete a produtividade e o tipo de indústria recenseada. Por exemplo, sabendo que 20% ou 30% da população trabalham em indústrias, não sabemos se esse percentual produz computadores ou chinelos. Mas, se as atividades agrícolas apresentam alta produtividade, podemos concluir que a indústria do país, caso seja industrializado, é predominantemente moderna, já que é ela que provavelmente fornece os adubos, os fertilizantes, os sistemas de irrigação e as máquinas utilizadas no campo. (MOREIRA & SENE, 2005)

Distribuição da Renda

A análise da distribuição da renda também se faz necessária no estudo da estrutura da população e de suas possibilidades de aplicação ao planejamento, tanto governamental quanto privado. Se o planejamento governamental não considerar a distribuição de renda nacional, suas políticas de educação, saúde, habitação, transporte, abastecimento, lazer etc. estarão condenadas ao fracasso. Assim como da parte da iniciativa privada, o planejamento de atendimento às demandas do mercado tem, necessariamente, de levar em conta o poder aquisitivo da população.

A análise dos indicadores de distribuição mostra que, nos países subdesenvolvidos e em alguns emergentes (termo geralmente usado para descrever um país que possui um padrão de vida entre baixo e médio, uma base industrial em desenvolvimento e um Índice de Desenvolvimento Humano – IDH – variando entre médio e elevado), no caso do Brasil, há grande concentração da renda nacional em mãos de pequena parcela da população, enquanto, nos desenvolvidos, a riqueza nacional está mais bem distribuída.

Isso é causado por conta, além dos baixos salários que vigoram no mundo subdesenvolvido, da dificuldade de acesso a qualquer tipo de propriedade rural ou urbana. Há basicamente dois fatores que explicam a concentração de renda: o sistema tributário e a inflação, esta nunca repassada integralmente aos salários. Se os preços das mercadorias subirem sem que esse índice seja repassado aos salários, aumenta a taxa de lucro dos empresários e diminui o poder aquisitivo dos assalariados, com o consequente processo de concentração de renda.

O sistema tributário constitui o modo como são arrecadados os impostos em um país, além de ser um poderoso mecanismo de distribuição de renda, principalmente na forma de serviços públicos. Os impostos podem ser diretos (aquele que recai diretamente sobre a renda ou sobre a propriedade dos cidadãos, a exemplo do Imposto de Renda arrecadado pelo governo todos os anos de acordo com os salários das pessoas – quem ganha mais paga mais e vice-versa) ou indiretos (estão incluídos no preço das mercadorias e dos serviços que a população utiliza em seu cotidiano, independentemente da sua faixa de renda). Em muitos países subdesenvolvidos, a carga de impostos indiretos é elevada, enquanto nos países desenvolvidos o maior volume de recursos arrecadados pelo governo local recai sobre os impostos diretos (MOREIRA & SENE, 2005).

O Principal Movimento Populacional

O deslocamento de pessoas entre países, regiões, cidades etc. é um fenômeno antigo, amplo e complexo, pois envolvem as mais variadas classes sociais, culturais e religiões. Os motivos que levam as pessoas a tais deslocamentos são diversos e apresentam consequências positivas e negativas, dependendo das condições e dos diferentes contextos socioeconômicos, culturais e ambientais em que ocorrem. Existem diferentes causas, como: religiosas, naturais, político-ideológicas, guerras, entre outras, mas verifica-se ao longo da história que predominam os motivos de ordem econômica para as migrações. Nas áreas de repulsão populacional, observam-se crescente desemprego, subemprego e baixos salários ou rendimentos, enquanto nas áreas de atração populacional, vislumbram-se melhores perspectivas de emprego e salário.

Há diferentes tipos de migrações: voluntária, quando o movimento é livre; forçada, em casos de escravidão e de perseguição política, étnica ou religiosa; e a controlada, quando o Estado controla a entrada e/ou a saída de migrantes.

Qualquer deslocamento de pessoas traz consequências demográficas e culturais. Enquanto se limitam aos aspectos culturais, as consequências costumam ser positivas, pois acabam ocorrendo uma troca e o enriquecimento dos diferentes valores postos em contato. Porém, ao acompanharmos os noticiários, percebemos a face perversa dos atuais movimentos imigratórios. Têm crescido, a cada ano, os conflitos entre pessoas de diferentes culturas e etnias que passaram a compartilhar o mesmo território nacional. Em muitos países, os movimentos neonazistas e separatistas, por exemplo, têm aumentado de modo considerável, assumindo dimensões críticas principalmente na Europa.

Existem dois principais tipos de migrações: as migrações externas que ocorrem de um país para outro; e as migrações internas, realizadas em uma mesma região ou país. As principais migrações internas são:

Nomadismo: movimento relacionado a fatores históricoculturais, caracterizado pela inexistência de moradia fixa e pelo deslocamento permanente ou periódico da população. Os melhores exemplos podem ser encontrados em regiões do deserto do Saara (África), porém diante do atual processo de modernização tecnológica esses movimentos encontram-se em fase de desaparecimento.

Êxodo rural: deslocamento forçado de populações das áreas rurais para áreas urbanas, sendo caracterizado pelas dificuldades de sobrevivência no campo em decorrência, principalmente, da estrutura fundiária moderna e mecanizada.

Transumância: movimento populacional sazonal, ou seja, ocorre em determinados períodos do ano e se repete frequentemente. Em termos mundiais, ocorre em áreas montanhosas, quando os pastores permanecem durante o inverno nas planícies e vales com os rebanhos e, no verão, deslocam-se para as áreas mais elevadas. No Brasil, é praticada pela população do Polígono das Secas (Região Nordeste), que, durante os períodos de longas secas, deslocam-se para a Zona da Mata.

Migração Pendular: movimento realizado diariamente, por exemplo, da periferia ou subúrbios de uma cidade para o centro ou de cidades-satélites ou municípios de regiões metropolitanas para a metrópole central, ou ainda por agricultores que residem em pequenas cidades e trabalham no campo e retornam ao ponto de origem após a jornada de trabalho. Trata-se de um movimento populacional característico das grandes metrópoles e de áreas que promoveram modernizações no sistema de transportes.

Dinâmica Demográfica Brasileira

A sociedade brasileira passou, e ainda passa, por um processo de miscigenação desde os primeiros séculos de sua história. Índios já presentes, negros de origem africana e brancos europeus (portugueses, a princípio) formam a “árvore genealógica” sobre a qual nasceu grande parte dos inúmeros traços culturais da sociedade brasileira, como religião, idioma, culinária, vestimentas, datas comemorativas, folclore etc.

Todavia, o encontro entre os povos indígenas, europeus e africanos não ocorreu de forma harmoniosa. A interferência da sociedade europeia na cultura indígena dizimou grupos inteiros que haviam se constituído há milhares de anos antes deles chegarem. O contato com os povos trazidos à força da África foi também marcado pela brutalidade e pela violência. Somente a partir da segunda metade do século XIX, novos grupos de outras etnias passaram a fazer parte da composição da população brasileira. Novos grupos de europeus chegaram ao Brasil. Eles fugiam da miséria em que viviam na Europa e ao mesmo tempo eram atraídos pela possibilidade de trabalho e de uma vida melhor, principalmente quando o Brasil ingressou no ciclo do café, o que impulsionou as exportações do país. Dentre esses grupos, vieram italianos, espanhóis, alemães e mais portugueses.

No final do século XIX e no início do século XX, pessoas vieram de diversas regiões do mundo, emigrando para o território brasileiro. Vieram sírios e libaneses, do Oriente Médio, e grandes grupos de japoneses, vindos do Extremo Oriente. E depois da Segunda Guerra Mundial, o Brasil continuou a ser receptor de muitos imigrantes, porém, na última década, esse movimento populacional vem se invertendo, com muitos brasileiros escolhendo sair do seu país como alternativa aos graves problemas econômicos vividos nos últimos tempos.

Os principais destinos têm sido os Estados Unidos, a Europa e o Japão.

Até a década de 1920, as altas taxas de natalidade e de mortalidade registradas no Brasil mantiveram o índice de crescimento natural relativamente constante e não muito elevado.

A mortalidade estava diretamente ligada às precárias condições médico-sanitárias existentes na época, tanto nas zonas rurais quanto nos meios urbanos, tendo remédios e vacinas escassos e os sistemas de água encanada e esgoto servindo a pequenas parcelas da população das cidades. Porém, a partir das décadas de 1930 e 1940, o Estado começou a combater as doenças existentes, pondo em prática os planos de saúde, como os de saneamento urbano, ampliação da infra-estrutura urbana básica (água encanada, esgoto, coleta de lixo, etc.) além das melhorias nos serviços de assistência médica.

A partir das décadas de 1950 e 1960, essas ações resultaram na drástica diminuição das taxas de mortalidade e, consequentemente, num maior incremento populacional, assim como em vários países subdesenvolvidos na época. Com tudo isso acontecendo, teve início a então chamada explosão demográfica, fenômeno marcado pelo alarmante crescimento da nossa população.

Desde a década de 1970, porém, a população brasileira passou a crescer em ritmos cada vez mais lentos. A diminuição do crescimento vegetativo, registrada nas últimas décadas, é resultado direto da queda da taxa de fecundidade que vem ocorrendo em todas as regiões do país, ainda que em compassos diferentes. Nos anos 1960, cada brasileira tinha, em média, seis filhos; atualmente, o número de filhos por mulher gira em torno de 2,2. Projeções recentes realizadas pelo IBGE indicam que a população do país, composta atualmente por, aproximadamente, 190 milhões de pessoas no ano de 2010, deverá atingir 260 milhões em 2050, e então deve começar a diminuir. A transição demográfica brasileira está em vias de se completar.

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As Migrações Brasileiras.

Analisando-se a história brasileira, iremos perceber que as migrações estão associadas, em predominância, a fatores econômicos desde o tempo da colonização.

Com o fim do ciclo da cana-de-açúcar no Nordeste, iniciou-se o ciclo do ouro em Minas Gerais, o que ocasionou um enorme deslocamento de pessoas e um intenso processo de urbanização, para aquele que se tornaria o novo centro econômico do país. Mais tarde, com a ascensão do ciclo do café e com o processo de industrialização, o eixo Rio-São Paulo se tornou o grande polo de atração de imigrantes, que saíam de sua região de origem em busca de emprego ou de melhores salários. Somente a partir da década de 1970, com o processo de desconcentração da atividade industrial e com a criação de políticas públicas de incentivo à ocupação das regiões Norte e Centro-Oeste, a migração em direção ao Sudeste começou a apresentar significativa queda.

Em 1920, apenas 10% da população brasileira viviam em cidades. Em 1970, esse número já era de 55,9%. De acordo com o último Censo 2010, 84,4% da população brasileira é urbana. Estima-se que, entre 1950 e 2010, mais de 50 milhões de habitantes migraram do campo paras as cidades, fenômeno conhecido como êxodo rural, por consequência de uma política agrária que modernizou o trabalho no campo e concentrou a posse das terras. Este processo, associado a uma industrialização que permanecia concentrada nas principais regiões metropolitanas, foi responsável pela transformação de áreas atrativas de população.

No entanto, as cidades receptoras desse enorme contingente populacional não obtiveram investimentos públicos suficientes em obras de infra-estrutura urbana, passaram a crescer espontaneamente, por meio da construção acelerada de submoradias e loteamentos (em sua maioria, irregulares) em suas periferias, sobretudo ao redor de bairros industriais. Esse processo reduziu os vazios demográficos que existiam entre as cidades e levou à formação das regiões metropolitanas (abordadas mais profundamente no capítulo sobre Urbanização), nas quais ocorre um deslocamento diário da população entre os municípios, movimento conhecido como migração pendular.

No entanto, o que ocorreu no Brasil, entre os anos 1940 e 1990, foi que as cidades não apresentavam uma oferta de empregos compatível com a procura, nem a economia urbana crescia na mesma velocidade que a migração. Em consequência, o desemprego crescia acompanhado do subemprego no setor de serviços, com aumento do número de trabalha dores informais, vendedores ambulantes e trabalhadores que vivem de fazer “bicos”.

Atualmente, nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro já se registra uma maior saída de população das metrópoles em direção às cidades médias do interior do que em direção a estas metrópoles, embora estas continuem tendo crescimento populacional total positivo. A principal causa desse movimento é que estas metrópoles atualmente não apresentam taxas de crescimento econômico tão significativas, a infra-estrutura de transportes é geralmente problemática, acompanhada de uma relativa precariedade no atendimento de praticamente todos os serviços públicos, com índices de desemprego e criminalidade mais elevados do que a média das  demais cidades. Já as cidades do interior do país, além de estarem passando por um período de crescimento econômico, oferecem melhor qualidade de vida à população.

As migrações internas servem para análise, não apenas como resultantes de eventuais desequilíbrios econômicos, sociais ou demográficos, mas, principalmente, como elementos da organização espacial de uma sociedade. Não é diferente no Brasil, onde atualmente a maior parte das migrações não são mais inter-regionais, como ocorriam em décadas passadas, mas ocorrem dentro da mesma região.

Além disso, no caso do crescimento das cidades médias do interior, verifica-se um rechaço do fluxo Nordeste-Sudeste, ou seja, boa parte dos migrantes continua dirigindo-se aos grandes centros urbanos, como São Paulo, Rio e Belo Horizonte, mas, em seguida, são rechaçados para o interior, buscando regiões como Ribeirão Preto, Triângulo Mineiro e outras, para onde muitas indústrias também estão se mudando. Por outro lado, um número considerável dessas cidades médias passou a ser o local de destino para aqueles que, ao deixarem o campo, evitam as capitais devido, sobretudo, às notícias de desemprego e de violência. Vale citar os casos de Londrina (PR), Caxias do Sul (RS), Campina Grande (PB), Feira de Santana (BA), Caruaru (PE), como novos polos de atração populacional.

O crescimento das áreas litorâneas, por sua vez, deve-se especialmente ao incremento do turismo em regiões como Porto Seguro (BA), litoral fluminense e litoral paulista, como também o litoral dos estados nordestinos. O turismo abriu um número considerável de postos de trabalho no campo dos serviços em geral, o que se torna fator de grande atração para os migrantes. Além disso, a presença de turistas amplia o chamado mercado informal, atraindo grande número de “trabalhadores autônomos” ou vendedores ambulantes.

Por fim, o crescimento do Centro-Oeste, com destaque para o Distrito Federal e seu entorno, e para a capital de Tocantins, explica-se pelo inchamento da chamada fronteira intensiva. A esperança de um terreno na periferia onde construir a casa própria não deve ser descartada. A política de doação de lotes, praticada pelo governo atual do DF, apenas organiza os focos de miséria que surgem no Distrito Federal.

Palmas, como capital de um novo estado, também tem sido local de destino de muita gente. A construção civil, o setor de serviços e o mercado informal absorvem parte do contingente que aí busca vida melhor.

Fluxo das Migrações Internas no Brasil

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Estrutura Etária do Brasil

As mudanças ocorridas no Brasil nas últimas décadas com relação ao comportamento demográfico têm alterado também as características da estrutura etária da nossa população. Na figura abaixo, podemos visualizar a evolução da estrutura etária brasileira nas últimas décadas.

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Como pode ser visto nas pirâmides etárias, a estrutura etária da população brasileira está em rápida mutação. Com a queda das taxas de natalidade e de mortalidade, acompanhada do aumento da expectativa de vida, a pirâmide etária nacional vem apresentando um significativo estreitamento em sua base, que corresponde aos jovens, e um alargamento de meio para o topo, por causa do aumento da participação percentual de adultos e idosos.

Quanto à distribuição da população brasileira por gênero (homens e mulheres), o país se enquadra nos padrões mundiais: nascem cerca de 106 homens para cada 100 mulheres; no entanto a taxa de mortalidade masculina é superior e a expectativa de vida menor. Portanto, embora nasçam mais homens que mulheres, é comum as pirâmides apresentarem uma parcela maior da população feminina.

Segundo o IBGE, em 2010 o Brasil tinha 93.403.990 milhões de homens (48,96%) e 97.348.809 milhões de mulheres (51,04%).

CENSO DEMOGRÁFICO 2010

Os censos demográficos produzem informações que permitem conhecer a distribuição territorial e as principais características das pessoas e dos domicílios, acompanhar sua evolução ao longo do tempo, e planejar adequadamente o uso sustentável dos recursos, sendo imprescindíveis para a definição de políticas públicas e a tomada de decisões de investimento, sejam eles provenientes da iniciativa privada ou de qualquer nível de governo. Constituem a única fonte de referência sobre a situação de vida da população nos municípios e em seus recortes internos – distritos, bairros e localidades, rurais ou urbanos – cujas realidades socioeconômicas dependem dos resultados censitários para serem conhecidas (IBGE, 2011a).

Segundo os resultados do Censo Demográfico 2010, a população do Brasil alcançou a marca de 190.755.799 habitantes na data de referência. A série de censos brasileiros mostrou que a população experimentou sucessivos aumentos em seu contingente, tendo crescido quase 20 vezes desde o primeiro Recenseamento realizado no Brasil, em 1872, quando foram registradas 9.930.478 pessoas (IBGE, 2011a).Hoje somos em 202,000,000 de habitantes.