GEOGRAFIA DA INDÚSTRIA, ENERGIA E TRANSPORTES

11. GEOGRAFIA DA INDÚSTRIA, ENERGIA E TRANSPORTES

 

A Geografia da Indústria é o ramo da ciência geográfica que estuda as relações de produção e suas repercussões espaciais.

As análises industriais normalmente possuem um viés majoritariamente econômico, porém quando se estuda, através de uma perspectiva geográfica, é necessário analisar a questão industrial com uma ótica social, ambiental, histórica e cultural com a finalidade de compreender as implicações desta atividade que alterou significativamente as dinâmicas mundiais e planetárias nas  diversas esferas. Para tratar sobre a questão industrial é necessário concomitantemente abordar sobre a geografia da energia e a geografia dos transportes que estão intimamente relacionadas com o desenvolvimento desta atividade.

Estágios da Evolução Industrial

É possível caracterizar a atividade industrial como aquela na qual a sociedade transforma a matéria-prima em produtos. De acordo com a divisão clássica dos setores da economia, a indústria faz parte do setor secundário, pois utiliza aquilo que é extraído do setor primário para o desenvolvimento de suas atividades. Alguns estágios podem ser destacados na evolução da atividade industrial:

Indústria artesanal: Ocorre desde o século XVII até os dias atuais. É caracterizada pela produção individual, feita pelo artesão, que desenvolve todas as fases da produção desde a extração, passando pelo processamento até a comercialização do produto. É importante que este estágio precede o sistema capitalista de produção

Indústria manufatureira: Surgiu durante os séculos XVII e XVIII e representa o início do sistema capitalista. Como características deste estágio, é possível citar a divisão de tarefas, a utilização de máquinas movidas por tração animal ou manuais e instituiu a hierarquia nas relações de trabalho (patrão e trabalhador assalariado).

Indústria maquinofatureira: A Revolução Industrial se iniciou através deste estágio de evolução desta atividade e também compreende o atual estágio do desenvolvimento industrial. A revolução técnica desencadeada pelo processo de industrialização foi iniciada com a descoberta de novas fontes energéticas (inicialmente carvão, depois eletricidade e petróleo) o que possibilitou o surgimento e o uso intensivo de máquinas e a produção em larga escala.

O berço de todos estes acontecimentos foi a Inglaterra e isto aconteceu por diversos fatores. Este país possuía reservas de carvão mineral no subsolo; a Lei de Cercamento das Terras gerou um excedente populacional nas cidades e a então burguesia local possuía excedentes financeiros, o que possibilitava o investimento nas indústrias.

Rapidamente esta novidade foi se difundido entre outros países europeus e, posteriormente, pelo resto do mundo. A reorganização do espaço mundial ocorreu como nunca antes foi imaginada. As relações entre as nações foram alteradas, bem como o ressurgimento das cidades promoveu o início de fenômeno até então inexistente: a urbanização. Esta pode ser considerada como filha da industrialização.

As cidades surgiram bem antes da indústria, porém o modo de vida urbano só se tornou possível com o advento da industrialização. Este modo de vida é caracterizado: pela intensidade nas relações societárias; pela densidade de acontecimentos, pois os eventos foram iniciados em locais com elevada concentração populacional; e, por fim, pela heterogeneidade populacional, onde é possivel observar diversas perspectivas sociais, éticas e religiosas.

Diferença Entre Indústria e Fábrica

Para compreensão da dimensão industrial é necessário distinguir a indústria e fábrica. Indústria é considerada um setor produtivo com intensas relações de extração e transformação da matéria-prima em produtos, para sua posterior comercialização.

Já a fábrica é apenas o local físico das instalações de uma indústria. Com a descoberta de novas fontes energéticas e o desenvolvimento das técnicas de utilização destas fontes a fábrica não precisa estar necessariamente próxima ao local de extração.

TIPOS DE INDÚSTRIAS

É possível classificar as indústrias de acordo com seu foco de atuação. Há duas grandes ramificações das indústrias: uma que trabalha a matéria-prima bruta, transformando-a em matéria-prima processada que são as indústrias extrativas e outra que trabalha com a matéria-prima já processada com intenção de comercializar para o consumidor final. O quadro a seguir diferencia os tipos de indústrias de acordo com sua atuação:

Indústria extrativa: Quando extraem matéria-prima da natureza, sem a ocorrência de alteração de propriedades elementares do que foi extraído. Ex: extração de petróleo, indústria madereira, extração mineral.

Indústria de bens de produção: Responsáveis pela transformação de bens naturais ou semifaturados para a estruturação de outras indústrias como as de bens intermediários e bens de consumo. Ex: Siderúrgicas e petroquímicas

Indústria de bens intermediários: São as que produzem máquinas e equipamentos que serão utilizados nos diversos segmentos industriais. Ex: indústria mecânica (máquinas industriais, tratores, motores automotivos) e indústria de autopeças (rodas, pneus)

Indústria de bens de consumo: Possui produção diretamente ligada para atender às necessidades do mercado consumidor. Este tipo de indústria pode ser dividida em: indústria de bens duráveis que são as que fabricam bens não perecíveis como automóveis, materiais elétricos e eletroeletrônicos; e indústria de bens não duráveis que são as que produzem os bens de primeiras necessidades com a indústria têxtil e alimentícia.

Espacialização das Atividades Industriais no Mundo

As atividades industriais são desenvolvidas de acordo com várias estratégias locacionais para a instalação de seus estabelecimentos.

No século XIX, as fábricas eram localizadas em áreas próximas às fontes de energia que alimentariam a produção. Era próxima também dos rios com a finalidade de liberar os rejeitos criados pelo desenvolvimento de suas atividades.

Outros fatores que eram considerados para a localização industrial eram: a distância dos locais de extração do recurso (matéria-prima) que abasteceria as fábricas, devido à questão dos transportes e da infra-estrutura incipiente; a disponibilidade de mão-de-obra para ser empregada na atividade e do mercado consumidor.

No período atual, podem-se considerar todos os fatores elencados no parágrafo anterior como importantes, mas não determinantes para a localização industrial, porém é possível acrescentar a estes fatores outros como os incentivos fiscais e as redes de comunicações.

Desta forma, o espaço industrial mundial está passando por alterações quando relacionado a períodos anteriores. As estratégias geográficas para a determinação da localização industrial que estão ocorrendo atualmente são:

Desconcentração: é caracterizada pela remoção de unidades produtivas de áreas industriais consolidadas e o estabelecimento de novas unidades produtivas em outras áreas que eram pouco industrializadas até então. Este processo altera e intensifica a divisão do trabalho.

Esta estratégia possibilitou a internacionalização do processo produtivo industrial. Este processo alterou a distribuição dos rejeitos e proveitos provenientes da atividade industrial, tornando-a geograficamente desigual.

O local onde se produziam os bens não será o mesmo onde estes bens serão consumidos. Os países do Norte (Europeus, EUA e Japão) possuem um custo mais elevado na produção, principalmente com mão-de-obra. As indústrias, sobretudo as mais poluidoras foram deslocadas para as áreas designadas em desenvolvimento, explorando cada vez mais os recursos naturais nestas áreas. Os novos países industrializados que receberam indústriasneste processo são: Brasil, México, Argentina, Índia e os Tigres Asiáticos.

As empresas transnacionais (corporações) são as responsáveis por esta alteração na distribuição da atividade industrial. Estas são caracterizadas por possuírem uma sedecomando em um país onde controlam o mercado de consumo no mundo e possuem também filiais em vários países.

Na índia, por exemplo, desde a década de 1980, há um intenso recebimento de investimentos de transnacionais, principalmente na área de informática.

Esta configuração só se torna possível com o desenvolvimento das redes de transporte e de comunicações. Desta forma, gasta-se menos tempo para as pessoas, mercadorias e informações circularem pelo espaço, caracterizando o que o geógrafo Milton Santos designou com período-técnico científico-informacional.

Descentralização: Consiste em uma política estatal de desenvolvimento industrial no qual um país estimula a implantação de indústrias em áreas periféricas por meio de investimentos, favorecendo incentivos fiscais e financeiros para atrair as empresas para estas áreas. Não é o mesmo processo que a desconcentração.

Localização Flexível: é uma estratégia na qual a produção é dispersada por várias unidades produtivas e, por isso, a mobilidade da localização das indústrias é elevada. Este processo supõe que, quando o negócio for mais lucrativo, a área industrial original é abandonada, sendo direcionada a outros locais.

Estes locais que recebem estas indústrias normalmente são mais adaptados às exigências do mercado tais como: mão-de-obra mais barata e produtiva, potencial de crescimento do mercado.

O mapa a seguir representa a espacialização mundial da indústria bem como as características destas áreas.

159

Industrialização do Brasil

O processo de industrialização do espaço brasileiro teve seus primórdios na criação dos engenhos para o processamento do que era explorado no cultivo da cana-de-açúcar desde o período colonial.

Este processo, porém, ocorreu de maneira contínua a partir do século XIX associado à produção cafeeira e à acumulação de capital propiciada por esta atividade. O café era cultivado nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo.

Após o evento global da crise de 1929, a produção cafeeira entrou em decadência no Brasil e, com isto, estes produtores buscaram alternativas. Então, surgiram no país de forma mais intensa as indústrias de bens de consumo não duráveis no setor alimentício e no setor têxtil.

O contexto de industrialização no território nacional iniciou sua transformação no período do Estado Novo no qual o então presidente Getúlio Vargas fez um acordo diplomático com o governo estadunidense, comprometendo-se a construir uma mineradora siderúrgica no país com auxílio dos Estados Unidos.

Este acordo se materializou em 1942, no governo Vargas, com a inauguração da Companhia Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, que possuía como atividade princiapal a extração de minério de ferro, sendo assim uma indústria extrativa.

Em 1946, durante o governo de Eurico Gaspar Dutra, foi inaugurada a CSN – Companhia Siderúrgica Nacional no município de Volta Redonda no estado do Rio de Janeiro. O período histórico compreendido a partir deste evento até o ano 1964 ficou conhecido como nacional-desenvolvimentismo. Desta forma, com a construção da primeira indústria de bens de produção, o estímulo para o desenvolvimento desta atividade desenvolveu-se em todo território nacional, porém de maneira concentrada nos estados do Sul e Sudeste. A continuação do avanço industrial no Brasil ocorreu com a criação de um indústria extrativa: Petrobras. Inaugurada em 1953 no governo de Getúlio Vargas esta estatal foi responsável por manter o avanço industrial brasileiro.

A partir do governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), iniciou-se a implantação das indústrias de bens de consumo duráveis, com destaque para a indústria automobilística e de eletrodomésticos. Isto se tornou possível com a atração do estado brasileiro de capital estrangeiro e estimulando com incentivos fiscais e financeiros o capital nacional para a instalação destas indústrias. Neste período, se investiu intensivamente na construção de infra-estruturas nas áreas de transportes e energia.

A partir deste momento, diversos polos industriais foram instalados com a intenção de dinamizar cada vez mais este setor. O quadro a seguir elenca os polos industriais existentes no Brasil, sua localização e qual o ramo de desenvolvimento de suas atividades.

POLOS INDUSTRIAIS NO BRASIL
160

Matrizes Energéticas

O processo de industrialização ocorreu simultaneamente com o avanço técnico na produção de energia. A descoberta de novas fontes energéticas possibilitou o desenvolvimento da atividade industrial que, inicialmente, ocorria nas áreas próximas de extração das fontes de energia .

Inicialmente, a energia era obtida da força animal (agricultura), da lenha (pequenos fabricos) e dos moinhos de água ou de vento (moagem do trigo confecção de tecido e forjas. A energia eólica, através da propulsão dos ventos, possibilitou as viagens oceânicas com a utilização das técnicas nos navios.

No século XIX, iniciou-se a utilização de combustíveis fósseis para a obtenção de energia. A primeira matéria-prima utilizada foi o carvão mineral que servia como energia para os navios a vapor, a iluminação pública a gás, nas locomotivas e na indústria têxtil. Já no final deste mesmo século, com a elevação das atividades industriais, surgiram novas fontes energéticas como a elétrica.

Retornando às matrizes fossilistas, a perfuração do primeiro poço de petróleo no mundo foi responsável por uma nova era no uso energético obtido de fontes fósseis. Este processo foi responsável por mudanças profundas na estrutura econômica mundial, sobretudo para o desenvolvimento da indústria automobilística.

Na sequência serão destacados o histórico e as implicações espaciais das principais fontes energéticas utilizadas no mundo atualmente.

Energia dos Combustíveis Fósseis

Esta fonte energética foi difundida desde o período da 1a Revolução Industrial com a extração de carvão mineral e, posteriormente, com a extração de petróleo. A energia proveniente de combustíveis fósseis é considerada não renovável. Os principais tipos de combustíveis fósseis são o petróleo, o gás natural e o carvão mineral.

PETRÓLEO

O petróleo é originado a partir de restos de animais acumulados no fundo de antigos oceanos e cobertos por rochas ou sedimentos. O tempo, associado à pressão exercida pelas rochas e sedimentos sobre esse material depositado, origina o petróleo.

O marco da exploração do petróleo ocorreu nos Estados Unidos com a perfuração de um poço e com a instalação de uma usina de refino rudimentar em 1859. No Brasil, o marco da exploração petrolífera foi a criação da Petrobras em 1953, iniciando-se a centralização do processo  de exploração que se encontrava disperso desde o início de sua exploração na década de 1940.

Comumente ouvimos expressão do tipo “os países produtores de petróleo” e aceitamos de maneira equivocada esta afirmação. Os países não são produtores, e sim extratores de petróleo. Os países não possuem condições técnicas de acelerar o processo conversão de restos mortais de animais e vegetais em petróleo.

No Brasil, atualmente a extração de petróleo está em estágio avançado, sobretudo devido à descoberta da camada présal.

Esta camada está situada nas profundidades oceânicas, abaixo da camada de sal. Esta área possui uma reserva de hidrocarbonetos em rochas calcárias e o petróleo extraído neste local está situado a uma profundidade de 5 a 7 mil metros.

GÁS NATURAL

Assim como o petróleo o gás natural é originado a partir de combustíveis fósseis. É um hidrocarboneto abundante e o gás metano é o mais utilizado. A exploração de gás natural normalmente está associada à exploração do petróleo, porém também existem jazidas exclusivas para exploração de gás.

CARVÃO MINERAL

É também é um combustível fóssil que possui processo de formação similar ao do petróleo. Surgiu como fonte energética na 1a Revolução Industrial e foi importante para o desenvolvimento industrial.

Atualmente, o principal uso da combustão direta do carvão é na geração de outro tipo de energia: a elétrica, através das usinas termelétricas.

ENERGIA NUCLEAR

Este tipo de fonte energética é bastante utilizada em áreas onde não há extensa disponibilidade de recursos hídricos para a produção de energia elétrica. A energia nuclear também conhecida como energia atômica é obtida através da fissão nuclear de um átomo. Este processo libera uma quantidade considerável de energia. A principal matéria-prima utilizada neste processo é o urânio.

Este tipo de obtenção de energia expõe a sociedade a diversos riscos de contaminação, pois a radioatividade liberada por problemas gerados nestas usinas pode causar sérios riscos à saúde humana, principalmente a elevação na incidência dos casos de câncer. Dentre os desastres já ocorridos, é possível citar o de Three Miles Island (EUA, 1979), de Chernobyl (Ucrânia,1986) e Fukushima (Japão, 2011).

No Brasil, a energia nuclear foi pensada durante o início do período da ditadura militar na década de 1960, construída através de auxílio técnico alemão na década de 1970 e iniciou suas atividades em 1984.

O centro nuclear brasileiro é denominado Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto e está situado no município de Angra dos Reis, no estado do Rio de Janeiro e é composta por duas usinas em atividade (Angra I e Angra II) e uma construção desde 2010 (Angra III). Atualmente, há uma intenção do governo brasileiro para a instalação de outra usina nuclear no Brasil e o estado da Bahia é o principal candidato para receber este empreendimento que ficaria localizado às margens do Rio São Francisco. O debate que ocorre é sobre a real necessidade de instalação de usina nuclear no Brasil que possui vasto potencial hidrelétrico.

ENERGIA HIDRELÉTRICA

Este tipo de energia é gerado a partir da barragem de um rio, e com deslocamento vertical da água para criar uma pressão que movimente as turbinas que operam os geradores de corrente elétrica por condução magnética. É considerada uma fonte renovável de energia, porém para a construção das usinas hidrelétricas há intensa degradação ambiental promovida nas áreas alagadas.

É a principal matriz energética brasileira, sendo responsável por 68% da energia elétrica gerada no território nacional.

ENERGIA ALTERNATIVA

Existem outros tipos de fontes energéticas renováveis que são consideradas alternativas à produção energética proveniente de combustíveis fósseis. Dentre estas, pode-se destacar: a geração de energia AP, a energia solar e a energia eólica.

Transportes

O desenvolvimento dos transportes ocorreu de forma mais intensa também a partir da Revolução Industrial. Os avanços técnicos possibilitaram o crescimento no volume da carga transportada o aumento da velocidade e a redução dos custos.

O desenvolvimento dos transportes ocorre simultaneamente com a construção de infra-estruturas que possibilitassem o escoamento de pessoas mercadorias. Desta forma, foram construídas ferrovias, portos, estradas o que estimulou a criação de uma rede de transportes.

Antes da revolução industrial o transporte marítimo era difundido e propiciou a circulação comercial e a acumulação primitiva do capital que, posteriormente, fomentou a atividade industrial. Durante o início da revolução industrail, as locomotivas e os barcos a vapor se tornaram mais importantes O quadro a seguir demonstra a articulação existente entre as inovações, as fontes energéticas e os meios de circulação existentes desde o século XVIII :

161

Matriz de Transportes no Mundo

Existem diferentes formas de prover a circulação das coisas e pessoas no mundo. Os modais de transportes são diversificados no mundo dentre os quais se destaca o rodoviário, ferroviário, hidroviário, marítimo, aquaviário (junção dos modais marítimo e hidroviário), aéreo e dutoviário. Quanto menos dependente de um tipo de transporte melhor a possibilidade de escoamento. A figura a seguir mostra os principais modais de transporte nos países com território extenso no mundo.

162

Redes de Transporte

Quando há um conjunto de transportes intermodal conectando e possibilitando a circulação de pessoas, informações e mercadorias se configura uma rede de transportes. A conexão dos diferentes meios de transportes facilita e amplia  a circulação, sendo necessário para esta ocorrência a conexão das infra-estruturas.